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Análise do trabalho independente "Gothik Kama Sutra" By Alpha III & Posthuman Tantra (2008-06-14)

Gibran Felippe


"Gothik Kama Sutra" - A primeira música se inicia com sons da natureza, vocal feminino incidental e um clima de suspense e mistério, é bem pequena, funcionando como um preâmbulo para a obra.

"The Infinite Ethereal Memes Of The Universe" - destaque para a percussão tribal em forma de ostinato que acompanha todo o desenvolvimento da composição, com infusões de sonoridades orientais nos teclados, sendo permeada por sintetizadores que reproduzem uma atmosfera sinistra. Experimentalismo e atonalismo puro. Fica-se a
convicção de estar ouvindo algo definitivamente original, não sendo aconselhável para ouvidos muito sensíveis a experimentalismos.

"The Search Of Francesco Bernardone"s Neurocosmic Circuit" - pelo nome fica clara a idéia de algo lunático e neurótico, típica característica dos grupos de vanguarda capitaneados por nomes como Sammla Mammas Manna, Art Zoyd e Algarnas Tradgard, mas não há necessariamente um ponto de contato com tais grupos. A rigor, a abstração aqui é muito maior, onde os conceitos musicais interagidos apenas em mídia sonora podem não causar o impacto necessário, caso fossem absorvidos conjugadamente com imagens oníricas. Ouvindo essa música, perpassou pela minha cabeça o filme ?Sonhos? do mestre Kurosawa, algumas imagens interpostas na película seriam bem acompanhadas pelos sons dispostos por aqui, intimamente ligados à dramaticidade imposta pelos sintetizadores.

"Mysteri Of The Atomic Cathedrals" - após escutar essa quarta música, posso descrever como corajosa essa concepção musical num país como o Brasil, que não possui a menor tradição nesse ramo essencialmente experimental e psicodélico. Em alguns momentos os teclados remetem-me a trechos de Oldfield e Vangelis. Interessante que mesmo sendo um trabalho eletrônico, não consegui enxergar muito do Tangerine, talvez um pouco da fase ?Phaedra? e mais nada. Amyr e Franco conseguem ser mais abstratos, porém não perdem o chão e essa é a primeira música que rola algum tipo de melodia mais tradicional. É muito bela, fazendo um contraste com os elementos sinistros dos números anteriores.

"Another Transgenic Mistake" - Sons da natureza se destacam num clima mais ameno, denotando uma outra guinada na natureza musical da obra, aqui noto ecos do "Olias Of Sunhillow" do mestre Jon Anderson, ou seja, um experimentalismo mais suave.

"The Gaia Umbilical Cells" Infinite Regeration" - O clima macabro retorna nesse número, com largo uso de sintetizadores e vocais sussurantes e intermitentes. A repetição massacrante é uma constante, uma das mais longas do cd e também entre as mais neuróticas.

"Intergalactic Sepulcrum" - Como o nome já enuncia trata-se de um número altamente space, na linha clássica do Jean-Michel Jarre, bem distinto do clima de andamento da obra, parece até que estamos ouvindo outro cd. O experimentalismo é deixado um pouco de lado, para algo mais tradicional na linha eletrônica.

"The Ayahuasca Chamaleon Spirits" - Essa composição segue a linha space também, mas sem o mesmo brilhantismo, não curti muito, achei a mais fraca, já que possui média duração sem muitas variações.

"My Posthuman Lover" - Os vocais iniciais são altamente lúgubres, assim como os acordes iniciais, parece que fomos transportados para uma outra dimensão, onde o planeta é habitado por zumbis, definitivamente não é música palatável para qualquer um.

"X-Tantric Mechanic" ? Aqui o extremo experimentalismo é abandonado um pouco, dando vazão ao eletrônico mais tradicional, com vários elementos futuristas. A viagem é excelente, sendo essa uma das músicas que mais apreciei no referido trabalho, pois ao fechar os olhos parece que estamos no comando de uma espaçonave a la "2001 - Uma Odisséia no Espaço " ou coisa que o valha. O Floyd usa muito esses elementos em discos como "The Dark Side Of The Moon".

"The Light Of The Mermald"s DNA" - Essa encerra o disco de forma apropriada, também num tom space com utilização de sinos, volta-se a algo próximo da fase "Phaedra" do Tangerine e também a toques que encontramos na primeira música. Até porque o fim nada mais é que o início, direcionado para outra dimensão astral.

Amyr e Edgar entregaram um trabalho de difícil digestão, principalmente para ouvidos acostumados à linha mais sinfônica, com extrema originalidade e fuga para uma dimensão onírica, psicodélica e sobretudo aterradora em alguns momentos. Parabéns a ambos pela ousadia de produzir algo tão intenso e dissonante em termos de Brasil.


Fonte :


Progbrasil