Haikara - Haikara - Progbrasil

Haikara

Finlandia




Titulo: Haikara
Ano de Lançamento: 1972
Genero:
Label:
Numero de catalogo:

Revisto por Marcello Rothery em 08/08/25 Nota: 8.0

 

Ótimo trabalho, disco de cabeceira

Pérola obscura do progressivo finlandês dos anos 70, este disco era pouquíssimo conhecido até mesmo entre o público de música progressiva na época, e mesmo na década seguinte.

O lançamento dos primeiros projetos da produtora Colossus, do mesmo país, a partir dos anos 2000, é que começou a chamar a atenção para a banda. Já no projeto inaugural, o cd duplo Tuonen Tytar 1, de 2001, possui músicas do Haikara interpretadas por outros artistas. Além da faixa de abertura do álbum ser interpretada pela própria banda, em uma nova versão bem diferente da original.

A isso se juntou os dois projetos seguintes da produtora, o sensacional Kalevala e o primeiro Spaghetti Epic, ambos de de 2004. Ambos, mais uma vez, tinham a faixa de abertura assinada pelo Haikara, o que despertou mais atenção ainda para a banda. Que, nesta época, tinha uma formação já completamente diferente da original, embora seguisse liderada pelo multi-instrumentista Vesa Lattunen.

Nesta altura, os primeiros discos da banda já estavam novamente no mercado, agora em formato de CD. E talvez o melhor deles seja justamente este aqui, estréia da banda, auto intituado, lançado no distante ano de 1972.

A banda se apresentou com uma formação bastante original e interessante. Guitarras e teclados ficavam exclusivamente a cargo de Vesa Lattunen, que também fazia vocais de apoio. Junto a ele, seu xará Vesa Lethinen nos vocais principais; Harri Psystynen na flauta e sax; Timo Vuorinen no baixo, e Markus Heikkero na bateria. Completam o time um convidado no violoncelo, dois nos trompetes e e mais dos nos trombones.

Mas mais do que isso, Lattunen era a mola mestra da banda: ele compôs todas as melodias do disco, além de centralizar os arranjos. Lethinen fez todas as letras.

O disco apresenta, como a formação deixa como pista, um som bastante original. Difícil encontrar semelhança com qualquer medalhão do progressivo aqui. A banda faz uma mistura muito própria, bastante focada em jazz/prog, mas também com muitos momentos sinfônicos. O flauta e o sax de Psystynen se destacam bastante, geralmente com o sax aparecendo nas partes com mais energia, e a flauta nos momentos mais melódicos (muitas vezes com o violoncelo acompanhando). Isto, junto aos demais sopros dos convidados, preenchem de forma impressionante o espaço nos arranjos, deixando Lattunen à vontade para se revezar entre a guitarra e os teclados.

O disco abre com a interessante Köyhän Pojan Kerjäys, que chega a lembrar música de circo, até por alguns toques de humor nos vocais. Destaque para o sax e os demais sopros em alguns trechos, além da guitarra. Mas a coisa melhora bastente na segunda faixa, Luoja Kutsuu, que já abre com flauta e violoncelo dando um toque mais sinfônico, além da bela interpretação vocal de Lethinen. A música intercala as passagens lentas com trechos mais acelerados onde os sopros aparecem novamente. Nos trechos lentos, ainda aparecem órgão e sinos, muito bem colocados junto do violoncelo e da flauta.

A terceira música, que encerra o lado A do vinil, é o grande destaque: a sensacional Yksi Maa & Yksi Kansa, com seus quase 10 minutos! Os sopros introduzem a música, seguidos pela melodia principal solada pelo violoncelo com flauta mais ao fundo, e a guitarra marcando. E entra a voz de Lethinen , em interpretação muito bela, mas curta. Pois o que vem a seguir a uma selvageria jazzística instrumental, com a guitarra marcando e os sopros acompanhando, seguidos por lindo solo de guitarra, talvez o mais belo de todo o disco! Recomendo ouvir bem alto! Vale a pena! Mas o show segue com intervenções dos trompetes e trombones, do sax, e de nova passagem melódica de flauta, antes de acelerar de novo com os sopros e a guitarra. É preciso destacar também o trabalho do baixo e da bateria, também brilhantes!

Um breve interlúdio, e então volta a bela melodia inicial, de novo com violoncelo e flauta à frente. E volta o vocal, agora com todos os intrumentos, em um final apoteótico, com todos juntos: banda e convidados! Sem brincadeira: essa música, sozinha, vale o preço do disco!

É exatamente essa a música que a encarnação mais recente da banda reinterpretou em 2001 na caixa Tuonen Tytar 1 da Colossus, mencionada mais acima. O arranjo lá é muito diferente, mais calmo. E tem um trecho novo no meio, com mais vocais. Eu, particularmente, acho esta versão original muito superior.

O lado B do vinil tem apenas 2 músicas: as longas Jälleen On Meidän e Manala, ambas com mais de 10 minutos.

Jälleen On Meidän é um jazz-rock mais pesado. Ela tem 2 baixos em alguns momentos (Lattunen toca o segundo). Os dois baixos, o sax de Psystynen e a guitarra do próprio Lattunen marcam a música inteira, que não tem tantas variações de melodia como as duas anteriores. Há aqui também mais um longo solo de guitarra no meio da música, com um trecho bem acelerado inclusive. Os músicos convidados não aparecem muito aqui, nem sei se chegam a participar. No final, temos uma espécie de jam session. Ainda merece destaque mais uma ótima presença do vocalista, que aqui aparece somente nos primeiros minutos da música.

Manala, que encerra o disco, é outro grande momento do mesmo, e talvez a sua música mais ligada ao sinfônico. Começa com uma delicada guitarra limpa e uma flauta (ainda há um discreto violão ao fundo). Entra o baixo e a voz (aqui um pouco mais grave), além de pratos de bateria bem discretos. Após os 3 minutos, os demais instrumentos entram, deixando a coisa um pouco mais acelerada, para depois ficar lenta novamente, com novo solo de guitarra. A partir dos 6 a coisa fica mais selvagem e jazzística, com o sax e a bateria entrando com força, além da voz com mais força. E fica até o fim intercalando algumas pausas com a entrada da banda toda. Encerrando o disco com tudo em cima!

Haikara, o disco, é uma obra que recomendo a quem goste de progressivo em geral, mas principalmente a quem curte coisas mais jazzísticas e menos convencionais. Os vocais são todos no idioma natal da banda, e tem gente que estranha isso. Eu acho que ficou ótimo!

Essa formação da banda mudaria logo após este primeiro disco, com a saída do vocalista Vesa Lethinen. No disco seguinte, Vesa Lattunen trouxe sua irmã para a banda, e com ela divide os vocais no disco, com mais protagonismo dele. Vesa Lethinen fez muita falta, isso é visível ao longo do disco.

O terceiro disco teve nova mudança, com a vocalista saindo e outro vocalista se juntando à banda, e o som ficando mais pesado.

Quando a banda voltou em 1998, somente com Vesa Lattunen como membro original. A sonoridade mudou um pouco, mas ainda manteve a qualidade. Vesa Lattunen trouxe outra vocalista para a banda, e dividia os vocais com ela, além de continuar dando bastante espaço para o sax.

As músicas que a banda produziu para os lançamentos da Colossus prometiam novidades para o futuro. Mas o falecimento de Vesa Lattunen, logo após os projetos Kalevala e Spaghetti Epic, pôs fim ao grupo, infelizmente. A banda preparava mais uma faixa para o segundo Spaghetti Epic quando Lattunen se foi.

Mas deixou o um belo legado. A começar por este brilhante disco aqui.
Progbrasil