Artigos e Documentários

O Movimento RIO - Fundamentação e Discografia (2009-12-31)

Renato Moraes



Discografia comentada das bandas dos dois primeiros Festivais Rock In Opposition (Londres, 1978 e Milão, 1979) com pequenas notas históricas



Apresento a seguir a discografia básica de Rock In Opposition, apenas das bandas que participaram dos dois primeiros festivais, Londres e Milão, pois depois desses dois festivais, os da França e Suécia já envolveram bandas diferentes e que não faziam parte do movimento original. Em Londres, em 12 de março de 1978, as cinco bandas originais do movimento Henry Cow (Inglaterra), Stormy Six (Itália), Etron Fou Leloublan (França), Samla Mammas Manna (Suécia) e Univers Zéro (Bélgica) se apresentaram. Antes do festival de Londres ocorreram concertos em Nothingham com Univers Zéro e Etron Fou Leloublan, pelo menos. Em 1979, os concertos de Milão ocorreram entre os dias 25 de abril e 1 de maio. Henry Cow não existia mais e foi substituído pelo Art Bears. Art Zoyd (França) e Aksak Maboul (Bélgica, com membros da Inglaterra) foram convidadas para integrar o movimento.

















A maior parte desse texto foi escrita entre o Natal e a passagem do ano de 2008 para 2009. Nesse período eu ouvi novamente boa parte desses CDs e na manhã do dia 27, ouvindo os discos do Samla Mammas Manna, fiquei sabendo da morte de Lars Hollmer, um dos nomes mais importantes nomes das bandas R.I.O. e um dos meus heróis. Esse modesto texto é dedicado à sua memória.


Henry Cow


Formada em 1968 por Fred Frith e Tim Hodgkinson. Chris Cutler juntou-se a banda mais tarde, mas se tornou um dos membros mais importantes. A banda que teve a idéia do festival e uma das mais coerentes e interessantes do movimento, misturando experimentalismo, rock, jazz e muito improviso.




Leg End (1973) - o primeiro trabalho foi gravado pelo quinteto Geoff Leigh, Tim Hodgkinson, Fred Frith, John Greaves e Chris Cutler. Alguns clássicos desse disco fizeram parte do repertório da banda até seu fim, tais como Nirvana for Mice e Teenbeat. Embora já apresentem todas as tendências de vanguarda, a influência de Robert Wyatt, Hatfield & the North e Soft Machine é forte, principalmente em faixas como Amygdala e Nine Funerals of the Citizen King. A grande maioria do material é composta, mas existem improvisos.

Unrest - a banda só tinha material composto para um lado do Lp, que vai bem na linha do Legend e para mim reúne algumas das melhores composições da banda, como Britten Storm Over Ulm, Half asleep, Half awake e Ruins. O lado dois é todo improvisado e o estúdio é usado como ferramenta de gravação; muita manipulação sonora, com uso de fitas magnéticas, loops, sobreposição de gravações, etc; para os mais tradicionalistas essa dualidade pode assustar, mas para mim, esse disco é uma das obras primas da banda. Alguns improvisos são bastante selvagens, mas muitos soam como composições mais ousadas. Geoff Leigh é substituído pela multi-palhetista Lindsay Cooper.

Após o Unrest o Henry Cow foi convidado para servir como base para a banda Slapp Happy, com a qual acabou se juntando e gravaram dois discos.

Slapp Happy + Henry Cow - Desparate Straight - canções, algumas folk, outras algo mais vanguardistas, mas basicamente canções. In Praise of Learning - Esse é um dos melhores trabalhos do Henry Cow, em que existem boas canções, boa dose de vanguarda e também conta com a formação expandida pelos membros do Slapp Happy. Aqui encontramos as melhores canções do Henry Cow. War em que o dueto vocal Peter Blegvad e Dagmar Krause é muito bem aproveitado, algo mais na linha do Slapp Happy. Living in the Heart of the Beast é a suíte escrita por Tim Hodgkinson, sendo o ponto alto do CD, com espaço para experimentalismo, passagens intrincadas e rápidas, outras de grande tensão e final climático. A faixa que eu gosto mais, no entanto, é Beutiful as the Moon? Terrible as na Arm with Banner, na qual Dagmar mostra do que é capaz. O CD é completado por dois improvisos.






Concerts - CD duplo que contem uma suíte formada pelo começo de Beutiful as the Moon..., seguida por Nirvana for Mice, Ottawa Song (nunca gravada em estúdio), Gloria Gloom e termina com ...Terrible as na Arm with Banner. A segunda faixa foi retirada de um dos três concertos que o Henry Cow fez com Robert Wyatt e é uma mistura de bad Alchemy do Slapp Happy com Little Red Riding... de Wyatt. Por sinal, esses shows foram as últimas três apresentações ao vivo de Robert Wyatt. Ruins (do Unrest) composição que perdurou no repertório da banda até os últimos concertos aparece com interpretação de tirar o fôlego. Essas gravações ao vivo foram transmitidas pela BBC e gravadas em Londres. O primeiro CD acaba com 15 minutos de Groningen, meio composta meio improvisada. Eu não tenho certeza, mas eu acho que isso é o lado da coletânea Greasy Truckers. O segundo CD é formado por improvisos, o que o Henry Cow gostava de explorar ao vivo, experimentalismo sem barreiras.

Western Culture - O ?canto do cisne? da banda. O CD contém dois segmentos, History & Prospects, com três partes, Industry, The Decay of Cities, On the Raft, composições de Tim Hodgkinson; o segundo é Day by Day, com quatro partes compostas por Lindsay Cooper, Falling Away, Gretels Tale, Look back e Half the Sky, a última com co-autoria de Tim Hodgkinson. Com certeza o disco mais ousado do Henry Cow, mais atonal, mais pesado e com as composições mais avançadas e intrincadas. A instrumentação é bem variada ,o disco foi gravado em uma época em que eles não tinham ninguém fixo no contrabaixo, que foi dividido entre Fred Frith e Georgie Born, que acabou ficando na banda depois das gravações. Ainda contaram com a participação de Irene Schweizer no piano e Anne-Marie Roelofs no trombone e violino. Algumas das faixas parecem mais com grupo de câmara do que com banda de rock. O disco é perfeito e influenciou muita gente, por exemplo, ouçam os metais em On the Raft e descubra de onde o Picchio Dal Pozzo tirou algumas de suas idéias para os metais. Aqui é onde a banda tem alguma influência das outras bandas R.I.O., mais do Univers Zéro, embora eles neguem!







Em 2009 foi lançada caixa com 9 CDs ao vivo mais um DVD. Gravações ao vivo e demo tapes com qualidade que varia de excelente a ruim. A caixa tem dois livrinhos com a história da banda, cronologia de shows etc. Para os 1000 assinantes, tem um CD extra com mais material ao vivo. Não vou descrever CD por CD, mas tem muito improviso, algumas coisas muito boas de gravações de rádio foram usadas, mas outras faixas foram deixadas de fora. No geral é um documento interessantíssimo.



Univers Zéro


Banda da Bélgica formada em 1974 por Daniel Denis, Roger Trigaux e Guy Segers. Começaram tocando jazz rock com influências de Jack Bruce, Miles Davis, King Crimson, Mahavishnu Orchestra e Jimi Hendrix. Longos improvisos sobre composições de 2 ou 3 minutos. Entre 1975 e 1976 é que a banda começou a deixar os improvisos e a influência do jazz de lado até achar sua própria voz, que se diga que é uma das mais fortes e influentes do movimento.



Univers Zéro (1977) - O primeiro trabalho da banda recebeu o nome do grupo, retirado de um livro de ficção científica do autor belga Jaques Steenberg. O Lp foi renomeado nas ediçõesseguintes como 1313, em virtude do número de série do disco. Um grupo de rock em que todos os membros só aparecem vestidos de preto, as músicas tinham nomes de assassinos seriais, na formação dois violinos, guitarra limpa, baixo, piano/harmonium/cravo, fagote/oboé e bateria. A música é extremamente intrincada e tem mais influência de Bártok e Stravinsky do que qualquer referência ao rock que se possa imaginar. Temas lúgubres e pesados, com fugas ágeis e marcação intensa. Um septeto que durou somente alguns meses, para a gravação do primeiro disco e alguns pouquíssimos concertos. Esse é o local para começar, pois a banda funcionava como uma banda.

Heresie (1979) - descrito como o disco mais macabro já gravado, Heresie tem somente três faixas. La Faulx (a foice em francês arcaico) tem duas partes, a primeira que é um improviso conduzido por Denis, que após algum tempo virou composição, com vocais em uma língua inexistente que soa mais como uma missa negra do que qualquer outra coisa e é seguida pela parte composta. Muitos shows da banda eram abertos por essa composição e eles achavam o máximo ver o pessoal se levantar e sair após alguns minutos. O lado B inicia-se com Jack the Ripper, praticamente uma mini sinfonia em que os vários movimentos representam a angústia, a decisão de sair à caça, a procura, a perseguição, a cirurgia-assassinato, o arrependimento e a decisão de continuar a saga de crimes. A última faixa, Vous Le Saurenz em Temp Voulu, inicia-se com uma das melodias mais bonitas escritas por Roger Trigaux, mas prossegue em sua levada pesada e intensa. Para quem tem coração forte. A banda ficou reduzida a um quinteto, perdendo o tecladista, um dos violinistas e tendo Guy Segers de volta ao baixo. O quinteto tocou de 1977 até 1979.

Ceux Du Dehors (1981) ? A maior parte dos fãs diz que este é o melhor disco da banda e é espantoso que ele exista, pois foi gravado durante grande troca de membros da banda e quando o disco tinha acabo de ser gravado, o Univers Zéro praticamente não existia mais. Existe aqui uma mudança de direção, os temas e os climas macabros são substituídos por muita energia nas execuções e alguma influência da música folclórica européia está presente. Três das melhores composições da banda estão aqui, Dense, Bonjour Che Vous e Combat. As primeiras 500 cópias do Lp original traziam compacto de 7? com música gravada só em um lado e que é a faixa bônus do CD. A banda que gravou esse disco fez pouquíssimos concertos, o que é uma pena, pois a música apresentada aqui é algo realmente especial.





Crawling Wind (1983) - EP só lançado no Japão com menos de 20 minutos. O único registro de uma das formações da banda que durou mais tempo, entre 1981 e 1983, e que excursionou intensamente. Toujours Plus a LEst, na linha das composições do Ceux Du Dehors. Before the Heat é peça curta em que todos os membros tocam viola ou violino e central Belgium in the Dark, é improviso gravado ao vivo. O CD ganhou várias faixas bônus: Influences que foi gravada nas mesmas sessões do Crawling Wind, composta por Andy Kirk e Up and Down (antes entitulada Golden Dawn e só presente na edição japonesa), composta por Denis, e ambas seguem a linha das composições do Ceux Du Dehors. Triumphe dês Mouches é outro bônus e tocada pela formação do Uzed, mas ao vivo. Complainte fecha o CD, gravada em 1978 com o quinteto do Heresie, mas com Denis tocando harmonium e Segers tocando percussão.

Uzed (1984) - Lp que vê a banda totalmente reformulada, quinteto de bateria, baixo, cello/alto sax, teclados e clarinete/clarone/sax soprano. Todas as faixas são compostas por Denis, com execução totalmente elétrica e de intensidade sem igual! As composições são muito energéticas, de andamentos rápidos e evolução intrincada. Duas composições voltam aos climas mais tensos e macabros.

Heatwave (1987) - O canto do cisne da banda nos anos 1980. Outro septeto, agora totalmente elétrico com duas composições muito fortes e pesadas, Heatwave e a longa The Funeral Plain, que no final parece que o próprio Lúcifer está esperando pela sua alma atormentada. Essas duas são de autoria de Andy Kirk e faziam parte do repertório do Univers Zéro desde 1981, mas só foram gravadas em 1986. As duas composições de Denis são variações sobre um mesmo tema. Infelizmente o solo de guitarra incrível que fazia parte da versão ao vivo não foi reproduzido no estúdio na gravação de Bruit Dans Les Murs. O Lp foi gravado apenas para fechar um ciclo, mas a banda já havia acabado antes da gravação do disco.






Estes podem ser considerados os trabalhos clássicos da banda. Em 1999 o Univers Zéro tentou voltar à vida e lançou The Hard Quest (1999), mas não foi possível manter a banda por diversas razões que chegou a ter mudanças na formação mesmo sem que houvessem concertos. Rhythmix (2002) e Implosion (2004) são quase que trabalhos solos de Daniel Denis, incluindo diversas formações para cada uma das faixas, apenas Michel Berckamans participou de todas as faixas. Live (2006) é o registro ao vivo da banda que marcou a volta da banda às atividades de palco e inclui composições antigas e novas. Relaps (2009) reúne faixas gravadas ao vivo nas excursões das bandas que gravaram Uzed e Heatwave. Material excelente.











Etron Fou Leloublan



Formado em 1973 pelo baterista Guigou Chenevier e pelo comediante, vocalista e saxofonista Chris Chanet, logo tiveram a adição de Ferdinand Richard, baixo e vocal. Guigou e Ferdinand formaram o núcleo da banda até o fim, tendo a sempre a contribuição de um saxofonista e depois dos teclados e vocal de Jo Thorion em seus últimos trabalhos. Não há um disco sequer com a mesma formação. O trio Guigou, Ferdinand, Jo ficaram juntos nos três últimos trabalhos, mas sempre com a adição de pelo menos mais um músico. Etron Fou influenciou toda uma geração de vanguarda da França, e eu acho que eles só perdem para o Magma como banda importante da vanguarda francesa. Todos os cinco discos de estúdio saíram em uma caixa com três CDs de produção miserável. Os cinco primeiros foram lançados em CD separadamente e a Musea promete o último para 2009.


Batelagés / Les Trois Fou"s Perdegagment /en Public aux Étais Unis d"Amérique - os primeiros trabalhos como trio de sax/vocal, bateria, baixo/vocal. A música era mistura de rock, punk, psicodelia, letras absurdas e bem humoradas e algum improviso. Os andamentos são marcados por tempos rápidos com batida bem compassada da bateria e, às vezes, da guitarra e baixo, o qual, quase sempre é usado como guitarra base; muitas paradas e mudanças de tempo, o baixo afinado de modo diferente, mais agudo, e sax no topo disso tudo. Muitos vocais, com algumas partes que o vocalista mais recita e fala do que cantam. Foi essa fase que lhes trouxeram a fama e nesse período eles conheceram o pessoal do Henry Cow.






Les Poumons Gonflés / Les Sillons de la Terre / Face Aux Elements - Esses
são, para mim, os discos mais trabalhados e bem elaborados da banda, pois a inclusão de teclados deu ganho importante ao som do Etron Fou. Muitas faixas podem ser descritas da seguinte forma: frases bem curtas de teclado e sax, uma frase mais longa, duas ou três repetições dessa seqüência e depois algo mais longo e melódico; os vocais podem acompanhar a parte mais melódica ou serem mais histéricos e malucos junto com as partes mais rápidas. Les Poumons e Face Aux foram produzidos por Fred Frith, que chega a tocar em algumas faixas. Les Sillons contém alguns dos vocais mais frenéticos de Jo Throrion, algumas das composições mais intensas e agressivas e é o disco que mais me agrada da banda. Face Aux é o mais melódico e tranqüilo de todos e o único que só saiu na coletânea e ainda não está disponível separadamente. As composições são mais calmas, mas os teclados trabalham bastante a atonalidade e é o único somente com o trio: Guigou, Ferdinad, Jo.






Stormy Six



Formado na década de 1960, passou por diversas alterações na formação e estilo. A banda começou a tocar música folclórica, passou a fazer canções de protesto em Un Bigletto del Tram, evoluiu para banda de progressivo de vanguarda com L?Apprendista, chegando ao seu auge de complexidade na década de 1980 com a Macchina Maccheronica e logo em seguida voltaram a gravar canções no Lp Al Volo. Por considerarem esse último passo como certa involução do caminho deles, resolveram acabar com abanda em seguida. Vez por outra eles se reúnem para concertos.



Le Idee di Oggi Per la Musica di Domani (1969), L''Unitá (1972) e Guarda giù dalla pianura (1974) - Nunca ouvi nenhum dos três, mas supostamente são discos de música folclórico-popular com certo contexto político nas letras. L''Unitá saiu em CD os outros eu não sei.






Un Bigletto del Tram (1975) - Com este disco é que começaram a participar de concertos comunistas e neste contexto conheceram o pessoal do Henry Cow. Canções bem elaboradas, algo de rock, mas as canções são mais ou menos populares, as letras têm cunho político. Interessante mas não é o melhor trabalho deles, mas muito deste disco fez parte do repertório deles até o final da carreira.

Cliché (1976) / Pinocchio Bazaar (EP, 1980) - reúne três trabalhos, acho que dois saíram no Lp de 1976 e outro no de 1980. O primeiro reúne Cliché e Tito Andrônico e são compostos por músicas com formato de canções, mas são instrumentais, na levada do Um Bigletto Del Tram ou com as tendências de vanguarda que a banda começaria a adotar. Praticamente todo acústico, já tem alguma atonalidade, certos improvisos, mistura de músicas meio circenses e folclóricas e vocalizes meio malucos, marca registrada dos concertos. O segundo reúne trabalho basicamente instrumental usado como trilha para peça teatral ou ballet e apresenta tanto composições inéditas ou versões diferentes de músicas de outros discos.

L''Apprendista (1977) - Rock progressivo com dois pés na vanguarda. O primeiro trabalho do Stormy Six que é totalmente interessante. Algo como Gentle Giant e Henry Cow tocando juntos. A maior parte das faixas são canções, mas as passagens instrumentais são complexas e intrincadas. Um dos discos mais interessantes da banda.







Macchina Maccheronica (1980) - O auge do Rock in Opposition, as composições têm grande influencia do Henry Cow; dodecafonia, improvisos, música complexa, partes de vocais com muito humor, como usado nos concertos, e participação de Georgie Born (Henry Cow, National Health). Fantástico.

Megafono (live, 1982) - Gravado ao vivo, mas nunca ouvi, pois sempre ouvi falar que a gravação é ruim demais.

Al Volo (1982) - Canções com certa influência do Etron Fou, pelo uso do baixo em estilo de guitarra base. Mesmo sendo composto só de canções, esse é o disco que eu mais gosto deles, pois as composições são belas, as letras engraçadas e bem elaboradas, as melodias são bonitas e a energia de execução é fantástica.

Un Concerto (live, 1993) - Registro de concerto póstumo, todo acústico fazendo retrospecto de quase toda a carreira. Muito bom.








Samla Mammas Manna (Zamla Mammaz Manna e von Zamla)



Samla Mammas Manna significa "mães coletoras de maná", banda formada nos anos 1960 e os integrantes tinham o acordo que se menos de três dos membros originais não estivessem na banda, eles não poderiam usar o nome Samla Mammas Manna, daí as variações de nome, mas basicamente a evolução da mesma banda. O quarteto formado por Lars Hollmer, Coste Apetrea, Hasse Bruniusson e Lars Krantz é considerado como a formação clássica da banda e tocaram juntos a partir do segundo disco até 1978. Voltaram a tocar juntos no final dos anos 1990, mas após briga séria entre Lars Hollmer e Hasse Bruniusson, o baterista original saiu e foi substituído por Tatsuia Yoshida. Vários músicos passaram pela banda, incluindo membros do Univers Zéro e da banda de Albert Marcoeur. Uma das bandas mais veneradas pelos outros membros do movimento R.I.O., tais como Michel Berckmans, Fred Frith e Guigou Chenevier.



Samla Mammas Manna (1970) - Este disco é difícil de categorizar, com elementos de folk escandinavo, passagens de canções de ninar, orgão com levada de rock n´roll dos anos 1960, bastante piano elétrico, improvisos com vocais, algo de jazz-rock primitivo com certa influência de rock alemão. As características da música típica da primeira fase do Samla já estão todas aqui. Algumas das faixas, rearranjadas, fizeram parte do repertório da banda ao longo dos primeiros cinco ou seis anos.

Måltid (1973) - Samla com o "som" do Samla, jazz-rock com levada alegre e descontraída, com elementos de folk escandinavo, blues, sequências rápidas, com várias paradas e começos, vocais em falsetos para simular voz de criança para cantar o tema da música, que muitas vezes chega a ser dançante, como polkas elétricas. Quarteto de baixo, bateria, piano acústico-elétrico e guitarra, que comandava os solos. A música é bastante prazerosa e divertida e essa diversão é o reflexo da alegria dos músicos estarem apresentando algo de que eles gostam. O disco mais acessível da banda que deve agradar quem gosta de jazz-rock dos anos 1970, com elementos folclóricos e não se importa com os vocais, ocasionais, com voz de criança do Lars Hollmer. Algumas passagens com mellotron e dominadas pela guitarra chegam a lembrar algo do Yes Album.

Klossa Knapítatet (1974) - A fase R.I.O. começa aqui. Trechos totalmente dodecafônicos intercalam-se a jazz-rock, cantigas infantis, música folclórica, improvisos, muitas variações temáticas, mudanças de tempo, alegria, energia e muita doideira.






Snorungarnas Symfoni (1976) - Composta por Greg Fitzpatrick, Snorungasrnas Symfoni é mais simples que os outros trabalhos do Samla, mas o mesmo clima positivo e alegre está presente. Já ouvi comentários que a banda não gostava dessa peça, mas ao vivo os dois lados eram apresentados como longa suíte e tocada com muita energia!\

Zamla Mammaz Manna - Schlagerns Mystik/För Aldre Nybegynnare (1977) ? Com a saída de Coste Apetrea e entrada de Eino Happalla a banda mudou de nome e ficou mais energética ainda. Dois Lps, um gravado em estúdio, com duas composições longas e várias curtinhas, mostra a continuação das boas composições; o lado humorístico é explorado nas composições menores e nos lembra bastante as fanfarronices do Zappa e the Mothers of Invention. O outro Lp é formado por improvisos gravados ao vivo.

Zamla Mammaz Manna - Familjsprickor (1980) - para mim o auge da banda, o disco mais criativo, mais nervoso, energético e pesado. Na contracapa é dito que o disco é menos alegre e otimista que os outros trabalhos, pois o mesmo foi gravado em momentos difíceis. Esse disco é fantástico e o possivelmente o melhor lugar para se conhecer o Zamla.






Von Zamla - Zamlaranamma (1982) - No Make Up! (1984) - 1983 (2002) - Com a saída de Lars Krantz a banda foi rebatizada como von Zamla. As composições mais líricas e apaixonadas e também o início do uso de teclados ?modernos? por Lars dando um som mais sintético para algumas composições. Participação de Michel Berckmans do Univers Zéro. 1983 foi gravado ao vivo em duas apresentações de 1983 e lançado postumamente, tem banda maior que os discos de estúdio, som magnífico e combina composições de várias fases da banda.






Kaka (1997) - gravado na volta da banda nos anos 1990, e o espírito é o mesmo e além de novas composições tem gravações de faixas clássicas do Samla que eram tocadas ao vivo nos anos 1970 e que nunca foram gravadas em estúdio antes.

Dear Mamma (2000) - Gravações ao vivo de qualidade não muito boa e com Tatsuia Yoshida na bateria. A edição sueca é mais antiga e tem 13 faixas, algumas faixas clássicas e alguns improvisos. A edição japonesa tem 8 faixas a mais para substituir as duas últimas da edição sueca, que são improvisos.





Bandas que participaram do Festival de Milão em 1979.



Aksak Maboul



Nasceu com o duo Marc Hollander e Vincent Kenis, que após gravarem o primeiro disco, começaram a tocar ao vivo. A eles juntaram-se Chris Joris (percussão) e Marc Moulin (teclados), em seguida substituído por Frank Wuyts. A constante participação de outros integrantes e convidados, tais como Michel Berckmans, Catherine Jauniaux, Denis Van Hecke (conhecido como o Jimi Hendrix do violoncelo), Geoff Leigh e Guigou Chenevier era comum. Para a gravação do segundo disco e para uma série de concertos, contaram com a participação de Fred Frith e Chris Cutler. Nos anos 1980 a banda tornou-se The Honeymoon Killers em que mistura new wave com vanguarda.

Onze Dances pour Combats Migraine - Uma mistura de diversos estilos com elementos de jazz, rock, música contemporânea, música eletrônica, drum machines, minimalismo, cantigas infantis, música barroca, africana e das Balcãs. Marc Hollander é o único a participar de todas as faixas, com muita sobreposição de gravações. Vincent Kenis participa de mais da metade das faixas e vários convidados estão presentes, tais como Catherine Jauniaux, Jeannot Gillis e Ilona Chale. A música é ao mesmo tempo charmosa, obscura, alegre e inocente. Para quem gosta dos discos solos de Lars Hollmer, as obras em forma de canção de Fred Frith e Albert Marcoeur. A música, em certas partes, parece mistura de Kraftwerk e Henry Cow. Um disco excelente que deve ser escutado com calma. Esse disco é admirado por quase todo mundo do movimento RIO!

Un Peu des L''Ame des Bandits - Algo mais sério, como o próprio Marc Hollander diz. Vanguarda total misturando tango, jazz, música polinésia, de piguimeus, blues, etc. Vocais, cello e violino em ritmos frenéticos, e música atonal abrem o disco. Palmiers em pots tem duas partes, um trio de piano, cello e violino e a segunda parte é um tango; uma fita cassete com um tango foi cortada em pedaços e colada aleatoriamente, a banda ouviu e gravou sem ensaio. O resultado é fantástico. Gestige Nacht, composta por Frith, leva sua marca registrada e poderia fazer parte do seu disco Speechless. Música de câmara e rock pesado são os temas das próximas faixas. O ponto alto do disco é a suíte Cinema, de 23 min. R.I.O. puro. Com Marc Hollander, Frank Wuyts, Catherine Jauniaux, Fred Frith, Chris Cutler, Michel Berckmans e Denis Van Hecke.






Art Bears



Fred Frith e Chris Cutler compuseram um ciclo de canções chamado Art Bears e o gravaram com o Henry Cow. Alguns dos músicos não gostaram do resultado final e não queriam que isso fosse lançado. Fred e Chris propuseram arcar com os custos e lançar com o nome de Art Bears, o resto do Henry Cow aceitou e foi assim que Hopes and Fears foi lançado. Quando o Henry Cow acabou Fred, Chris e Dagmar Krause resolveram continuar como o Art Bears na forma de trio. Ao vivo tiveram a colaboração de Marc Hollander (Aksak Maboul) e Peter Blegvad (Slapp Happy).



Hopes and Fears / Winter Songs / The Word as It Is Today - Todos os discos são estilisticamente semelhantes, canções com temas pesados, tristes e chegando a passagens bem lúgubres. As letras em geral enfocam temas sociais, do capitalismo canibal, dos problemas e das desgraças da guerra, da pobreza e das falsas democracias. Não é um conjunto de canções alegres para serem ouvidas nos finais de semanas ensolarados.






Art Zoyd



Formado em 1969 por Rocco Fernandez, logo com adesão de Gerard Hourbette e Thierry Zaboitzeff ao grupo, sendo ativo até hoje, mas apenas com Gerard Hourbette da formação original. O nome original era Art Zoyd III e depois passou a ser apenas Art Zoyd. A banda passou por tantas mudanças em sua formação quanto em seu estilo musical. Chegou a contar com membros do Univers Zéro em sua formação em diferentes fases, tais como Michel Berckmans, Daniel Denis e André Mergenthaler. Entre 1978 e 1980 apresentaram-se diversas vezes como única banda junto com o Univers Zéro. Hoje funcionam como escola de música e os principais trabalhos estão ligados a grandes espetáculos ou tocando trilha sonora de filmes mudos ao vivo. A discografia será descrita em grupos de trabalhos por estilo enfocados.



Art Zoyd 3 - Symphonie Pour Le Jour ou Bruleront Les Citess (1976) / Manage (1982, single de 7 minutos) - o primeiro trabalho já tinha a marca da música do Art Zoyd, mas nunca foi lançado em CD (até 2008) por causa da qualidade não muito boa da gravação. Mistura de jazz e música contemporânea. A edição japonesa em CD foi tirada de um Lp com certa quantidade de estalos.






Phase IV / Les Espaces Inquiets/Le Marriage du Ciel et de L''Enfer/L''etrangleur Est Derriere Nous - Esses trabalhos marcam a transição para a fase elétrica-eletrônica. Os caras chutam o balde aqui, energia total, composições intrincadas, minimalistas, gravações com vozes no fundo, alguma percussão eletrônica, cello e violino elétricos, muitos teclados
e vocais com a voz gutural de Zaboitzeff. Poderíamos comparar, em intensidade de execução, ao Ceux Du Dehors ou Uzed do Univers Zéro. O último título é fita cassete de circulação restrita, com trabalho inédito do Art Zoyd, na mesma levada do L´ Enfer, mas mais alegrinho, a qual não sei se foi lançada oficialmente pela banda, ou não.





Berlin / Nosferatu / Marathonnerre I & II / Faust / Häxan - Fase eletrônica, em que são usados samplers, muitos samplers, percussão eletrônica, dois cellos, muitos teclados e as composições são bem minimalistas. Nosferatu, Faust e Häxan são trilhas sonoras para filmes mudos e Marathonnerre é o resumo da trilha sonora de peça de teatro experimental de apresentação contínua de 12 horas. Alguns desses trabalhos têm vocais de verdade, com Zaboitzeff cantando com sua voz gutural-fantasmagórica. Berlin e Nosferatu são os dois melhores, mas muita gente acho que aqui é o fim da banda.











u.B.I.Q.U.e. - Composto para orquestra de guitarras e baixos elétricos, múltiplos teclados, múltiplos percussionistas + Daniel Denis na bateria eletrônica. Para o tamanho da banda e orquestra usadas, eu esperava por algo mais sólido. Muito devagar e sem graça.

Metropolis / Le Champ des Larmes / Le Chute de la Maison Usher - Últimos trabalhos, duas trilhas sonoras para filmes mudos e outra para encenação multi-mídia. Eu não gosto, em particular, pois temos ou só ruídos ou sequências de sons com batidas eletrônicas sem graça e sem criatividade. Alguns colegas, porém, me disseram que aqui eles encontraram novamente o caminho das pedras.







Musiques Nouvelles - Experiences de Vol 1, 2, 3 / Musiques Nouvelles - Experiences de Vol 4, 5, 6 - Dois CDs triplos com composições de diversos compositores de vários países diferentes e que estagiaram com o Art Zoyd. Música contemporânea, a única conexão é que os artistas trabalharam na oficina Art Zoyd de música e tiveram seus trabalhos patrocinados pelo Art Zoyd. O grupo belga Musiques Nouvelles fica encarregado de tocar todas as músicas. Muito interessante, mas não é Art Zoyd.





Renato Moraes - Dezembro de 2008 - Setembro 2009


Fonte :


Progbrasil