Air - Moon Safari - Progbrasil

Air

França




Titulo: Moon Safari
Ano de Lançamento: 1998
Genero:
Label:
Numero de catalogo: 6644-2

Revisto por Gibran Felippe em 12/02/09 Nota: 8.0

 

Ótimo trabalho, disco de cabeceira

Ótimo trabalho, disco de cabeceira.

O grupo francês Air surgiu no cenário musical dos anos noventa com uma proposta muito bem definida, a qual seja possibilitar uma reviravolta na pasmaceira pop que reinava absoluta no período. Com a obtenção do aval da Polygram levantaram verba suficiente para levar suas idéias adiante e o objetivo foi alcançado, pois obtiveram boa penetração no mercado fonográfico, sem necessariamente comprometerem sua musicalidade rezando a cartilha medíocre do pop imposto pelas gravadoras e por artistas de qualidade discutível, incapazes de conceberem algo diferente do mero feijão com arroz das pistas de danças mundo afora. De imediato percebe-se que estamos diante de um trabalho com inúmeras influências, calcado nos sintetizadores que tanto marcaram a vertente eletrônica, misturado a inúmeras referências, umas óbvias como o Pink Floyd, outras nem tanto como a bossa nova e soul.

A formação do grupo é disposta em forma de dupla com dois multi-instrumentistas Jean-Benóit Dunckel e Nicolas Godin acompanhado por músicos eventuais, com destaque para o arranjador David Whitaker. 'Moon Safari', assim como diversas outras obras, talvez possua sua consistência graças à presença desse excelente arranjador, já que as melhores músicas contam com sua presença, mais notadamente 'Talisman', sem falar que esse álbum é responsável pela solidificação da carreira do grupo, já que seu lançamento obteve boa repercurssão entre o público jovem, possuindo até mesmo edição nacional e fazendo parte de alguns filmes de linhagem cult adolsecente, tais como 'As Virgens Suicidas' de Sofia Coppola e '10 Coisas Que Odeio Em Você' protagonizado pelo finado Heath Ledger que se destacaria depois por uma atuação impecável em mais uma recriação da saga do Batman para a telona.

'Moon Safari' pode ser classificado perfeitamente como um disco de detalhes, essa é a magia contida aqui, exatamente a riqueza de detalhes, as passagens sutis ora por um dedilhado de violão, ora por sons incidentais dos teclados permeando todas as músicas com muito clima e leveza. A faixa inicial 'La Femme D'Argent' (provavelmente a melhor ao lado de 'Talisman'), integralmente instrumental já prenuncia em sua totalidade os atributos do disco, a começar pela linha de baixo de Godin, marcante e bem característica do grupo, seguido por um sintetizador ao fundo a la Tangerine Dream e outro teclado na dianteira sendo pilotado por Eric Regert solando de forma livre, nas linhas jazzísticas européias não tanto ortodoxas quanto a escola americana. A percussão se baseia na mais pura batida da bossa nova, dando um tempero todo especial à musicalidade space rock do grupo, elaborando assim uma atmosfera bem original. Os detalhes aqui ficam a cargo da virada de ritmo com hand claps (outro fator explorado amplamente pelo Air) e principalmente o solo de moog nos dois minutos finais, em que denota-se grande inspiração de Dunckel. Na sequência surge o maior hit do álbum, 'Sexy Boy' que nos seus cinco minutos mostra muita força, fazendo grande sucesso no circuito cult europeu do fim da década de noventa, rememorando a batida do Kraftwerk, porém numa atmosfera menos tensa, menos neurótica e mais vibrante, utilizando-se de bateria convencional e inúmeros efeitos de sintetizadores.

'All I Need' é o tipo de música capaz de agradar em qualquer ocasião, sonzeira ambiente de alto nível. O ponto alto são os vocais de Beth Hirsch, extremamente afinados e timbre característico de cantoras de soul americano, ela retornaria ainda para 'You Make It Easy' abordando temática semelhante, outro fator interessante está na riqueza de detalhes e efeitos extraídos dos teclados, que perpassam pelo piano mais tradicional, viajando nos synths, sonoridade de hammond e desaguando num moog que combinado aos violões geram uma atmosfera super instigante. Dando continuidade a uma temática que classificaria como space pop, o álbum traz a batida vibrante de 'Kelly Watch The Stars', atenção para a virada em meados da música, alterando levemente o andamento inicial.

'Talisman' traz o momento mais progressivo do álbum, número integralmente instrumental utilizando-se de arranjos orquestrais e bateria convencional mostra que a banda pode alçar um longo vôo em execuções eletrônicas de alto nível. A referência cristalina é a sonoridade do Tangerine Dream da fase 'Stratosfear', sem dúvidas um dos melhores momentos do 'Moon Safari' pode ser conferido nessa composição, o único senão é que sua essência merecia uma maior duração, já que em apenas quatro minutos fica difícil apresentar um repertório maior de variações. Outro bom momento do disco encontra-se em 'Ce Matin La', com destaques para a tuba executada por P. Woodcock, remetendo à sonoridade do soft jazz tradicional, os climas impostos pelos teclados possui grande magnetismo, com aquela melodia típica que o rufião costuma seduzir a meretriz em filmes franceses clássicos e libidinosos da década de sessenta.

As duas últimas trilhas seguem totalmente na linha space, em que 'New Star In The Sky (chanson pour SOLAL)' se aproxima integralmente das composições de Rick Wright no Pink Floyd, pelas linhas psicodélicas unidas a um piano altamente instrospectivo e emotivo e 'Le Voyage De Penelope' fecha com similaridade aos timbres de teclados do Kraftwerk.

Esse trabalho do Air serve como alento e nos faz acreditar que o pop bem mesclado com elementos usuais ao progressivo, soul, jazz e outros estilos tem salvação e o percurso a ser trilhado está delineado em obras dessa natureza.
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