Cactus Peyotes - Cactus Peyotes - Progbrasil

Cactus Peyotes

Brasil




Titulo: Cactus Peyotes
Ano de Lançamento: 2001
Genero:
Label:
Numero de catalogo: 057

Revisto por Gibran Felippe em 28/08/09 Nota: 7.5

 

Bom, mas com ressalvas

Bom, mas com ressalvas.

O grupo carioca Cactus Peyotes surgiu como um raio na cena progressiva nacional e desapareceu da mesma forma. Antes mesmo do lançamento oficial do seu trabalho debutante, a banda já estava escalada para fazer parte do tradicional festival progressivo RARF no ano de 2001, fazendo show de abertura para nada mais, nada menos que o lendário grupo italiano Le Orme. A apresentação naquela ocasião deixou muito a desejar, pois o desajuste dos equipamentos foi total, além do nervosismo característico de uma exibição que demandava extrema responsabilidade devido ao nível de exigência do público presente, uma autêntica prova de fogo. No palco a tensão reinava e os músicos não conseguiram ficar a vontade um instante sequer, talvez por antever os problemas, ou simplesmente diante da reação fria após o primeiro número, que fora executado com um peso desproporcional para a ocasião.

O fato é que aquela má impressão, de certa forma, se dissipou após o lançamento do álbum 'Cactus Peyotes', pois numa audição preliminar já se tornava possível perceber que a sonoridade do grupo era bem diferente do que foi apresentado ao vivo no Garden Hall. Uma pena que o estrago já estava feito e não se sabe atualmente, quase dez anos depois, qual o paradeiro dos integrantes do grupo e se ainda estão tentando navegar nas águas progressivas.

A banda flerta com o hard rock clássico, típico dos anos setenta, imortalizado por nomes como Uriah Heep, Captain Beyond e Scorpions, em que as guitarras não são violentas, possuindo a desenvoltura necessária com força, mas sem agredir os ouvidos. Os teclados são dignos de destaque, executando bases e solos com timbres interessantes. A formação do grupo para esse trabalho é composta por Daniel Lamas - teclados e violão, Christian Pierini - guitarras, Jorge Silveira - bateria, Ives Pierini - baixo e flauta e Marcus Fernandez - vocais.

'Hamurabi Code' abre o disco com um belo prenúncio nos teclados, fazendo um fundo para a entrada da guitarra altamente suingada e os vocais do Marcus, o instrumental chega ao auge no contraponto em meados da música entre a guitarra e o teclado com a pausa necessária para a virada da bateria. Esta sequencia também é responsável por encerrar a mesma, se aproximando bastante do Rush, os breves solos de guitarra e teclados proporcionam uma bela textura harmônica nesta boa introdução. O hard clássico permanece em 'Labyrinths Of The Mind', agora com profusão de violões, algo que não foi percebido no show. A linha de baixo é de uma vivacidade atraente, responsável pela condução de uma base bem criativa, a pausa para o solo de teclado é um dos melhores movimentos do disco, alterando completamente o ritmo introdutório, até a chegada de mais um belo solo de guitarra que cessa para um derradeiro movimento climático e bem progressivo.

O grupo deixa um pouco de lado a linha hard setentista para uma execução mais alinhada com a cena nórdica dos anos noventa em 'Sdruwz', com todos aquelas características neuróticas tão marcantes naqueles grupos influenciados pela segunda e terceira fase do King Crimson, o problema detectado aqui está relacionado à curta duração da mesma, passando a ligeira impressão que o desenvolvimento sofreu um corte abrupto, quando seria possível atingir uma esfera um pouco mais elevada, abrindo para solos variados dos instrumentistas e até mesmo uma possível jam, mas infelizmente isso não ocorreu. 'Spirit Of The Forest' é a balada do álbum, afinal de contas, qualquer grupo de hard que se preze deve ter uma boa balada em suas fileiras, nesse ponto temos um belíssimo solo de flauta que casa perfeitamente com os violões a la Jimmy Page. Entretanto, algo sai do prumo e incomoda um pouco, mas isso ficará claro mais à frente.

A quebradeira da guitarra com a bateria em 'Magarça' deixa claro que o álbum realmente é bem superior ao observado no show de estréia do grupo. Os teclados estão consistentes e nervosos utilizando-se de vários timbres e o melhor solo de baixo em toda obra encerra a contento esse bom número instrumental, provavelmente a melhor música do álbum, já que o talento dos músicos aflora perfeitamente.

Em 'Toadstool Tea' o calcanhar de Aquiles do Cactus Peyotes fica nítido e reside nos vocais. O instrumental se desenvolve com muito vigor e boa técnica, mas quando o vocalista salta a voz, realmente a desafinação é perene e de fato incomoda, principalmente nos movimentos mais pesados e rápidos, atingindo uma neurastenia ao ouvinte que poderia ser contida ou ajustada em estúdio, este fato também ficou óbvio no show.

Ao chegarmos em 'Soul's Flight', já se torna possível tecer a comparação sobre essa questão dos vocais com um dos maiores medalhões de todos os tempos, o venerado Rush. Já que esta música é mais suave e se desenvolve sem muita intensidade, tendo sua base aos violões e com teclados menos agressivos, pois bem, nesse contexto mais leve os vocais soam razoáveis, não prejudicando o andamento da composição, exatamente a percepção e sentimento quanto aos vocais do Geddy Lee que nos andamentos mais tranquilos são agradáveis, mas sempre que o Rush engrena num hardão daqueles e ele abre o canto... precisa estar muito sintonizado e absorvido para não optar por retirar o disco do player.

O show de teclados a cargo do Daniel Lamas toma forma nos dois números seguintes 'The Right To Death' e 'Sacred Blaze', justamente nessas ocasiões que a sonoridade do grupo se aproxima do Uriah Heep, fazendo com que o trabalho em questão possa ser de interesse de todos aqueles que curtam essa linha musical. É possível perceber também um quê do prog metal assinado pelo Dream Theater nos anos noventa. O álbum se encerra com a diminuta 'And I Wait...', típica balada na linha dos grupos de grunge da década de noventa, mais notadamente Pearl Jam, os violões são bem interessantes.

Em se tratando de disco de estréia, pode-se dizer que o Cactus Peyotes passou no teste e o percalço durante o RARF não pode configurar como uma mácula que desqualifique o trabalho de estúdio realizado pelos integrantes da banda. Infelizmente ficamos privados de conferir uma possível evolução do grupo através de um segundo álbum, já que tudo indica o término das atividades por parte do mesmo logo após a exibição no RARF. Uma outra qualidade importante neste 'Cactus Peyotes' está na duração clássica (40 min.), típica de vinil, algo incomum no inicio da década para a mídia cd, já que boa parte dos grupos debutantes estava utilizando uma fórmula menos enxuta em trabalhos de longo fôlego, onde muitos passavam a impressão da necessidade de se preencher todo o tempo da mídia (80 min.) muito mais do que se concentrando propriamente na duração natural que cada música exige, tornando-se enfadonhos, onde se afirma com tranqüilidade que poucos realmente atingiram o louvor dos grupos dos anos 90. O disco do Cactus Peyotes com relativa curta duração é uma exceção a esse contexto, na tentativa de mostrar que não há necessidade de se produzir obras de longa duração apenas porque a mídia de gravação oferece tal opção, nesse ponto acertaram em cheio.
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