Triumvirat - Spartacus - Progbrasil

Triumvirat

Alemanha




Titulo: Spartacus
Ano de Lançamento: 1975
Genero:
Label:
Numero de catalogo:

Revisto por Gibran Felippe em 27/06/09 Nota: 9.5

 

Obra-prima, irretocável

Obra-prima, irretocável.

Ao entrar em estúdio, mais uma vez com a formação premiada do álbum anterior 'Illusions On A Double Dimple', o maior grupo de rock setentista da Alemanha, já com estrondoso sucesso no ano anterior obtido na América, necessitava da confirmação do seu legado, já que a maior parte das grandes bandas se solidificam com uma trilogia composta por discos consistentes, faltava então para o Triumvirat mais um belo trabalho, já que os anteriores estavam consolidados no cenário musical da época.

Para satisfação dos admiradores do power trio, este trabalho tomou forma rápida, se firmando no conceito do grande gladiador Spartacus, imortalizado nas telas dos cinemas pela dobradinha Stanley Kubrick e Kirk Douglas. Muitos apregoam a sonoridade do Triumvirat a uma cópia bem feita dos ingleses Emerson, Lake And Palmer, inclusive associando 'Spartacus' ao disco 'Trilogy', difícil compreender o fato, muitas vezes rotulando os alemães pejorativamente de não possuírem qualquer indício de originalidade. Quando simplesmente nos atentamos a escutar ambos os discos, percebe-se que são extremamente diferentes em seus arranjos e construções sonoras, sem falar que tais grupos praticamente iniciaram suas jornadas juntos, no ano de 1970, mesmo que pese os ingleses terem lançado seu debut pioneiramente. É verdade que há semelhanças no escopo das obras, o tamanho das músicas (até porque a grande fonte inspiradora dos alemães foi de fato o grupo The Nice), mas a qualidade melódica do Triumvirat é inigualável na busca do perfeito equilíbrio entre movimentos complexos/rebuscados e aqueles inteiramente melódicos.

Aqui se encontra a formação clássica da banda: o magnífico Jürgen Fritz - teclados, o técnico Helmut Köllen - baixo, guitarras e vocais e a genialidade visceral de Hans Bathelt - bateria. A performance fenomenal dos músicos se inicia com 'The Capital Of Power' mostrando nos mais diversos teclados e baixo a dramaticidade que o conceito solicita e não poderia iniciar melhor do que intitular o centro do império romano. Em 'The School Of Instant Pain', através dos seus quatro movimentos, já se torna claro que o disco é essencial em qualquer coleção que se preze. As letras são muito inspiradas, sendo assinadas pelo baterista Hans Bathelt, seguindo a cartilha de outros notáveis grupos como Eloy e Rush. Os acordes iniciais ao piano são belíssimos, de uma suavidade ímpar, combinando sublimemente com os belos vocais de Köllen. Essa característica melódica é algo diferenciado com relação ao Emerson, Lake and Palmer que possui um nervosismo quase perene, já que os teclados de Keith Emerson sempre se caracterizaram por ser um azougue, enquanto Fritz mescla movimentos agressivos e rápidos com outros menos tensos, sem bem que após essa singela introdução, a quebradeira rola solta até o fim da música com direito a um solo de bateria inclusive, diga-se de passagem, uma dos melhores do álbum

A momento inicial da música 'The Walls Of Doom' não é muito inspirado, o swing do baixo não casa muito bem com os teclados e como o tema é instrumental, merecia uma leitura menos simples e um pouco mais tensa, da metade da música em diante, eis que surge um movimento dramático, grandioso, com uma bateria forte, fazendo jus ao título. A seguir a composição mais poética do álbum, trazendo-nos uma interpretação brilhante dos vocais do saudoso Köllen - 'The Deadly Dream Of Freedom', onde podemos destacar os momentos de violão e guitarra bem executados ao longo do trabalho, realmente um músico completo. Esta bela música foi uma das responsáveis por alçar 'Spartacus' a um verdadeiro sucesso de vendas, principalmente nos Estados Unidos.

O conceito musical do álbum torna-se claramente mais simples que o anterior após a execução de 'The Haze Shades Of Dawn', muito dessa percepção decorre da ausência orquestral, pois este número em particular é daqueles que possuem um arranjo inteiramente instrumental e muito pomposo, em que casaria perfeitamente com um quinteto de violinos e alguns metais, característica fartamente explorada em 'Illusions On A Double Dimple'. A saga do herói Spartacus possui em 'The Burning Sword Of Capua' um dos seus momentos mais vibrantes, configurando a máxima de um genuíno power trio: baixo, bateria e teclados simplesmente destruidores.

Mais uma vez as cordas do violão de Köllen surgem imponentes na bela 'The Sweetest Sound Of Liberty', levando-nos por uma volta ao passado, imaginando a caminhada do gladiador através de um sublime bulevar antes do ingresso nas grandes arenas em busca da sobrevivência e da glória junto à turba romana. Esta dramaticidade e tensão dos temas em consonância com o período histórico recriado na obra aportam com intensidade nos dois épicos finais, 'The March To The Eternal City' e 'Spartacus'. A virada para o segundo movimento na primeira é incrível, com Hans Bathelt desenvolvendo uma linha de bateria muito inspirada em conjunto com o possante baixo de Köllen, criando uma harmonia perfeita para a entrada triunfante dos teclados do mestre Fritz.

A música título é considerada por muitos admiradores como uma das melhores construções do grupo, também sou daqueles que consideram esse fechamento excelente. Porém 'Spartacus', mesmo grandioso, não atinge o nível do 'Illusions On A Double Dimple', já que alguns movimentos são repetitivos, verificando-se ainda um certo desequilíbrio entre os temas, justamente pela superioridade do lado B, principalmente os dois números finais. De qualquer forma, essa formação foi a responsável pelos dois melhores trabalhos do grupo, pena que jamais foi repetida, ficando restrita na história do Triumvirat aos 'Illusions On A Double Dimple' e 'Spartacus'.

Pra finalizar, apesar de sempre associarem os alemães à figura do Emerson, Lake And Palmer, sempre enxerguei o Triumvirat numa sintonia maior com os holandeses do Trace, devido às tintas melódicas e também a ausência quase completa de experimentalismos psicodélicos, algo típico da carreira de Keith Emerson, que abusava de improvisos, alguns até catatônicos e sem sentido.
Progbrasil