Emerson, Lake & Palmer - Love Beach - Progbrasil

Emerson, Lake & Palmer

Inglaterra
http://www.emersonlakepalmer.com/




Titulo: Love Beach
Ano de Lançamento: 1978
Genero:
Label:
Numero de catalogo: 4105024-2

Revisto por Gibran Felippe em 10/12/09 Nota: 8.0

 

Ótimo trabalho, disco de cabeceira

Ótimo trabalho, disco de cabeceira.

Uma capa pavorosa! Esta sem dúvida é uma apropriada constatação introdutória para 'Love Beach'. Difícil identificar à primeira vista se estamos diante de um álbum dos Menudos (banda caribenha de grande sucesso comercial apelativo nos anos oitenta) ou se realmente é uma obra do respeitável Emerson, Lake And Palmer, provavelmente uma das capas mais bisonhas de todo o rock progressivo, mas o fato é que estamos mesmo diante de mais um disco dos anos setenta dos veneráveis Keith Emerson - teclados, Greg Lake - guitarras, baixo e vocais e Carl Palmer - bateria. A comparação com Os Menudos até que não chega a ser totalmente vã, afinal de contas temos em comum a localidade das gravações, já que o grupo optou por encerrar seu contrato com a Atlantic gravando rapidamente este trabalho nas Bahamas, onde poder-se-ia ao menos, aproveitar belos dias de sol.

A qualidade da gravação é excelente, uma das melhores produzidas pela banda, ficando nítida na primeira música 'All I Want Is You', pois a sequencia de timbres nos teclados de Keith Emerson surge cristalina em meio ao bom jogo de bateria do Palmer, que executa algumas variações interessantes numa base bem colocada, menos quebrada é verdade, mas ainda assim com excesso de categoria. Os vocais de Lake também continuam ótimos, mas a letra de Sinfield deixa muito a desejar, completamente fútil e medíocre. No geral uma música simples, mas muito agradável de se ouvir. A música tema aparece logo em seguida com as mesmas características da primeira, boa bateria de Palmer, belos vocais e Emerson utilizando praticamente os mesmos timbres nos teclados. A duração também é praticamente a mesma, pouco mais de dois minutos. Talvez o maior problema das duas primeiras músicas reside na opção de Lake em tocar guitarras, ao invés de baixo, deixando a cozinha do grupo, que sempre fora marcada por ser altamente progressiva, um tanto capenga e meia boca já que sua guitarra é muito burocrática.

O álbum sofreu com inúmeras críticas, entretanto não chega a ser trágico musicalmente, a rigor a banda resolveu traçar uma orientação sonora mais comedida se comparada à grandeza dos trabalhos anteriores e mesmo sem o brilhantismo de antes, a proposta musical soa honesta, inclusive contendo uma música conceitual e longa. É verdade que o grupo estava apenas cumprindo a fase final do contrato, mas ainda assim não entregaram os pontos. 'Taste Of My Love' traz excelentes momentos, rock de qualidade em que Lake não somente marca como efetiva movimentos bem arrojados tanto em conjunto com os teclados de Emerson que varia muito mais nos timbres, como na batera de Palmer que está um aço e para alegria de todos que curtem o bom rockão do ELP, Lake volta a pegar no baixo do meio para o fim da música criando um movimento intenso, pena que chega ao fim de forma abrupta. Depois temos o blues de 'The Gambler', para quem gosta do estilo é prato cheio, até solos de gaita rolam durante toda a música e tem-se também aqueles vocais femininos típicos, mas certamente é a música menos inspirada do disco e a letra é de doer, ao contrário da anterior que soa ao menos razoável, ainda bem que a música possui curta duração.

Deixando o radicalismo de lado, verifica-se com 'For You' que o Emerson, Lake And Palmer ainda seria capaz de premiar seu fiel público com músicas acima da média e de modo geral o grupo não mudaria seu conceito musical partindo de uma forma abaulada para algo côncavo e completamente distinto, assim como fizeram alguns dos seus pares um pouco depois, notadamente Genesis, Triumvirat e Gentle Giant. Das músicas de curta duração, esta sem dúvida é a melhor, possui acima de tudo clima e Keith Emerson descasca nos teclados do meio para o final, criando camadas atmosféricas propícias para os perfeitos vocais de Lake. Depois de 'For You' pode-se observar que as faixas de curta duração contidas em 'Love Beach' não são tão discrepantes das músicas curtas dos discos clássicos, algumas são até mesmo superiores, logo a perda em qualidade é mínima sob este aspecto. A clara diferença reside na comparação entre as suítes, já que a complexidade e quebradeira de números como 'Tarkus' e 'Karn' Evil Nine' não são observadas aqui, pois 'Memoirs Of An Officer And A Gentleman' é super introspectiva para os padrões do grupo. Mesmo assim, à exceção do primeiro disco que atinge o equilíbrio perfeito, os demais apresentam certa irregularidade e uma ou outra música aquém do desejável.

'Canario (From Fantasia Para Un Gentilhombre)' trata-se de um número meio distoante no álbum, totalmente instrumental e baseado numa composição do músico clássico espanhol Joaquín Rodrigo, mesmo contendo uma evolução sonora típica do Emerson, Lake And Palmer, soa mais como uma inspiração em forma de homenagem por estarem gravando numa região de cultura espanhola e o aspecto negativo é justamente a ausência dos vocais de Lake, que estão simplesmente maravilhosos, algo que por si só já deveria agradar os admiradores do grupo. Apesar de ser considerada por muitos como o único bom número do disco, particularmente está completamente fora de contexto, quebrando a uniformidade deste trabalho e portanto o seu descarte não seria nenhum absurdo. Existe uma corrente de estudiosos do ELP que batem na tecla de que a Atlantic Records obrigou contratualmente os músicos a desenvolverem composições de curta duração e comerciais, porém há contradições nesse sentido, pois como justificar a presença de uma suíte do porte de vinte minutos? Outro indício de que esta teoria pode ser falsa reside no fato de que o grupo sempre apreciou desenvolver músicas pequenas e menos arrojadas, o tal rockão básico! Inclusive os trabalhos posteriores são repletas delas, mesmo já estando livres do compromisso contratual com a Atlantic.

A explicação para certo lapso criativo pode residir na proporção da fama do grupo que na ocasião se deu ao luxo de gravar na praia de Love Beach, uma das mais belas das Bahamas. Paraíso de milionários e aventureiros, onde algumas testemunhas oculares admitem que a banda gravou todo o álbum em menos de uma semana.

O álbum termina com uma suíte belíssima, tornando o conceito do mesmo mais elevado. Dividida em quatro movimentos 'Memoirs Of An Officer And A Gentleman' possui uma sensibilidade impressionante. Já no primeiro movimento 'Prologue/The Education Of A Gentleman' fica claro a alma da dobradinha Emerson e Lake. Porém em 'Love At First Sight' tem-se o melhor momento de todo o disco, quando Keith Emerson ao piano executa um movimento rebuscado e introspectivo, acompanhado em seguida pelo violão mágico de Greg Lake, aqui o grupo emociona. A terceira parte é conduzida por Carl Palmer que aguardava seu momento de entrar na suíte e o faz com primazia, diversas combinações de pratos, surdos e taróis sem um pingo de exagero, mostrando grande habilidade. Emerson aproveita para desfilar sua infinidade de timbres e os vocais de Lake tornam-se mais agressivos conforme o desenvolvimento musical o solicita. Enfim estamos diante de uma autêntica suíte do ELP, menos quebrada é verdade, mas ainda assim brilhante. Infelizmente as críticas à época do lançamento do álbum fizeram com que a mesma fosse injustamente descartada pelo grupo que não mais a executou nos shows de retorno na década de noventa. O único senão de 'Memoirs Of An Officer And A Gentleman' é a marcha final um tanto enfadonha.

Algo presente em 'Love Beach' que de certa forma não se encontra em trabalhos clássicos do grupo, salvo um ou outro número, está no foco nas melodias e emotividade. O público mais sinfônico costumar enfatizar esse aspecto da ausência de melodia em suas críticas, justamente pela supremacia da técnica exacerbada em detrimento da emoção, entregando uma musicalidade quase sempre fria, apesar de sólida e robusta. A importância de 'Love Beach' na discografia do Emerson, Lake And Palmer se faz valer, sobretudo por este contraponto, onde se nota um disco menos complexo e mais emotivo. Provavelmente o grande problema para os admiradores do grupo esteja de fato na péssima capa e nas letras pueris, comprometendo toda a audição do mesmo, já que musicalmente não deixa nada a desejar para o projeto anterior denominado 'Works', entretanto o peso das críticas foi exponencialmente superior na comparação junto a este projeto. Se não fosse essa capa pavorosa...
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