Isildurs Bane - Mind Vol. 1 - Progbrasil

Isildurs Bane

Suecia
http://www.isildursbane.se/




Titulo: Mind Vol. 1
Ano de Lançamento: 1997
Genero:
Label:
Numero de catalogo:

Revisto por Demetrio em 27/02/07 Nota: 10.0

 

Discoteca básica, fundamental

Na estrada desde os anos 80, o grupo sueco Isildurs Bane é um dos maiores representantes do mais legítimo rock progressivo sinfônico na atualidade. Com fortíssima inspiração na música de câmara e de vanguarda, sutis reminiscências de bandas como King Crimson, Frank Zappa e Pink Floyd, algumas levadas jazzísticas e harmonias de intensa beleza melódica, a música do IB é uma grata caixinha de surpresas e pode ser muito bem resumida nas palavras do próprio
líder da banda, o compositor e tecladista Mats Johannsson: "Ao longo dos anos, nossa música tem reunido elementos das mais diversas vertentes, notadamente do jazz, fusion, erudito e música teatral. Nosso desenvolvimento musical também tem tido muito a ver com novos membros vindos de diferentes formações, tais como rock, funk, clássico e jazz".

Uma banda com muito entra-e-sai de músicos ao longo de sua carreira (girando sempre ao redor do gênio extremamente criativo e vanguardista do Mats Johannsson), o IB chega ao seu oitavo trabalho (o primeiro da série MIND – Music Investigating New Dimensions) com a seguinte formação: Mats Johansson (teclados, sintetizadores, samplers, efeitos), Klas Assarsson (marimba, vibrafone, xilofone, crotales, outros instrumentos de percussão), Jonas Christophs (guitarra), Joachim Gustafsson (violino), Fredrik Emilson (baixo) e Kjell Severinsson (bateria). Além desses, um grande time de músicos convidados, dentre os quais Jonas Albrektson (oboé, trompa), Daniel Bruno (trombones, tuba), Eric Mattisson (trompete), Björn J:son Lindh (flauta), Magnus Gutke (violão clássico), Lars Hägglund (piano, sintetizador), Stefan Isebring (hurdy-gurdy), Peter Schöning (violoncelo) e The Saltstänk Choir, conduzido por Marit Zetterström.

Mind Vol. 1, a exemplo de grande parte dos trabalhos do IB, também é um álbum totalmente instrumental. O disco abre com "The Flight Onward (Phases 1-5)", uma magnífica suíte com 12 minutos de duração, bastante sinfônica, complexa e experimental, repleta de variações ao longo de seu andamento, com ótima presença de instrumentos de sopro (inclusive de flauta à la Jethro Tull), muita percussão (vibrafone, xilofone, sinos, etc.), baixo e bateria, além de boa intervenção de
guitarra no final. Uma das melhores faixas do álbum.

"Ataraxia" (faixa 2) é bem suave e sinfônica, essencialmente uma peça de câmara executada por violino com acompanhamento de guitarra, cabaça e vibrafone.

"In a State of Comprehension" (faixa 3) se interliga com a faixa anterior, iniciando-se com riffs suaves de contrabaixo, toques de vibrafone e violino, progredindo em seguida para levadas mais roqueiras, com marcante presença de violino, contrabaixo, guitarra e bateria.

"The Pilot" (faixa 4) começa com vozes estranhas e uma atmosfera meio sombria, depois uma música bem suave comandada por violino, flauta, riffs de guitarra e solos esparsos de bateria e percussão, progredindo em seguida para um ritmo mais enérgico e feroz, com ótima presença de guitarra, bateria e toques de flauta à la Jethro Tull.

"Unity" (faixa 5), a exemplo da faixa 2, é essencialmente uma peça de câmara também, executada por violino e piano.

"Opportunistic Walk [Phases 1-2]" (faixa 6), a exemplo da faixa de abertura, é uma suíte sinfônica bastante complexa e experimental, com 15 minutos de duração, dividida em diversos movimentos, também com presença marcante de instrumentação sinfônica (sopro e cordas) e muita percussão (muita mesmo!!!) ao longo de seu desenvolvimento, além de ótimas intervenções de guitarra, baixo e bateria.

"Holistic Medicine" (faixa 7) é outra magnífica suíte sinfônica de 15 minutos, começando num clima entre sombrio, hipnótico e viajante ao mesmo tempo, numa longa passagem marcada por intervenções esparsas de violino, flautas, elementos percussivos e sintetizadores, depois um riff feroz e visceral de guitarra, seguido de um novo retorno à calmaria proporcionado por solos suaves e
melancólicos de violino e flauta, mais uma intervenção de bonitos riffs de guitarra com uma sonoridade meio country, de linhas de baixo e evoluções de sintetizadores, progredindo ao final num clímax sonoro arrasador comandado por bateria, muita percussão e riffs poderosos de guitarra, mas terminando sombria e novamente tranqüila como no início.

"A Blank Page" (faixa 8) encerra esta autêntica obra-prima do progressivo sinfônico com solos melancólicos de guitarra (à la David Gilmour / Andy Latimer), com acompanhamento de teclados, violoncelo, bateria e percussão, apresentando algumas sutis reminiscências de Pink Floyd e After Crying em sua parte rítmica final. Linda demais esta música, mesmo sendo bem curta (3 minutos apenas).

São características predominantes no som do IB, portanto, a farta utilização de instrumentação sinfônica (sopro e cordas) e de elementos percussivos (vibrafone, xilofone, marimba, sinos, chimes, crotales, etc.), sendo o percussionista Klas Assarsson um dos músicos de maior destaque nesta banda – o cara é um verdadeiro
monstro nas baquetas e mallets. Outro músico cuja sonoridade também se sobressai bastante é o excelente guitarrista Jonas Christophs, pela incrível beleza e fluidez de seus solos, cristalinos e envolventes como os do David Gilmour (Pink Floyd) e Andrew Latimer (Camel).

Mind Vol. 1 é um trabalho absolutamente irretocável, na minha opinião o melhor disco da carreira do IB e uma obra-prima fundamental em qualquer coleção progressiva. Constitui tarefa árdua definir, num álbum tão extraordinariamente coeso como este, quais seriam as melhores faixas, de qualquer modo eu arriscaria apontar as três suítes do disco – "The Flight Onward", "Opportunistic Walk"
e "Holistic Medicine" –, bem como a belíssima faixa de encerramento, "A Blank Page", como minhas prediletas.

O IB atingiu, no meu entender, o ideal supremo almejado em termos de rock progressivo sinfônico e de vanguarda: consegue ser original, complexo e extremamente agradável ao mesmo tempo, coisa que até hoje não consegui encontrar em nenhuma outra banda dentre aquelas ditas "experimentais" e "avant-garde", por um lado (normalmente com muita quebradeira mas pouquíssimo ou nenhum atrativo melódico), nem tampouco, por outro lado, entre aquelas mais "sinfônicas"
e "melódicas", geralmente pouco aventureiras no que concerne a variações e incursões mais vanguardistas. Não é fácil conciliar essas duas coisas, mas o IB foi extremamente feliz na solução desse aparente antagonismo entre beleza melódica e complexidade.

Uma última e importante informação: a qualidade técnica deste CD também é magnífica, com todos os atributos necessários à sua inclusão entre as melhores gravações do gênero.
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