Affinity |
Inglaterra |
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Revisto por: Gibran Felippe | Nota:9.5 |
Obra-prima, irretocável.
O trabalho homônimo do grupo Affinity foi como um raio que cruzou os anos setenta e por lá ficou escondido durante muitos anos, até a sua redescoberta no início da década com lançamentos pelos selos Repertoire e Angel Air, diga-se de passagem edições com excelente qualidade de gravação e produção caprichada, mitigando por completo o venial descuido com relação a esse esquecimento. A banda tomou forma em meados da década de sessenta através de uma pequena reunião de três músicos universitários de jazz: o pianista Lynton Naiff, baterista Grant Serpell e Mo Foster no baixo. Após inúmeros testes e audições para a escolha de um guitarrista, ficaram satisfeitos com o magistral desempenho de Mike Joop (ex Tridents), bom músico de jazz e blues, também possuía seus próprios amplificadores, além de um carro para transportar os equipamentos do grupo. Por fim, uma típica professora de língua inglesa, franzina e meio sem sal, com poucas referências fora apresentada por um antigo companheiro de faculdade para fazer um teste. Surpresa geral, a moça arrasou com sua potente voz rouca e rascante, criando uma baita sinergia com a sonoridade que estava sendo desenvolvida pela banda, a professora era um prodígio, atendendo pelo nome de Linda Doyle e assumindo de imediato o posto de vocalista do grupo. Com a formação estabelecida, faltava um nome, assim sendo, o termo Affinity foi retirado de um LP de Oscar Peterson e o grupo lançou seu primeiro e único álbum, de mesmo nome, em 1970. O mesmo foi recebido com muitas críticas elogiosas, fazendo a cabeça de muita gente com sua sonoridade híbrida de jazz, blues, hard, folk e progressivo, imediatamente entrando para a galeria de artistas como Miles Davis, Brian Auger, Jimi Hendrix e bandas como Led Zeppelin, Colosseum e Yes. Linda Hoyle passou a ter o status de uma diva do rock, muitos a reverenciavam com grande efusão, até porque no mesmo ano o rock havia perdido para sempre sua estrela maior - Janis Joplin. O disco inicia com um petardo, um autêntico cartão de visitas, "I Am And So Are You", onde toda a profusão sonora do grupo atinge um nível de força impressionante num mix de hard e blues pra não se botar defeito, o riff introdutório de guitarra combinando com o sax é a deixa perfeita para os vocais de Linda. Dois aspectos são bem interessantes e muito sutis, o primeiro é que apesar da atmosfera sonora ser distinta do Yes, em meados da música o timbre da Linda, bem como a cozinha lembra muito a fase Yes do "Time And A Word", para conferir basta ouvir músicas como "Astral Traveller" e "Then". O outro aspecto é o solo final de guitarra na linha Hendrix, rasgando geral com peso e categoria em doses exatas. Difícil não se empolgar logo de imediato com essa música introdutória que em apenas três minutos é capaz de agradar a qualquer um que curta um autêntico rock and roll. Em seguida rola "Night Flight", o que na minha opinião é uma das melhores músicas do álbum, ao lado da versão alucinante de "All Along The Watchtower". A suavidade dos violões no início da música dá um toque folk em complemento ao vocais que geram uma atmosfera onírica até a chegada das guitarras. Após a introdução temos um trecho instrumental com uma performance exuberante do hammond, extremamente bem executada por Lynton Naiff que definitivamente mostra ser um músico diferenciado, capaz de improvisar o tempo inteiro sem perder o andamento lógico das composições, sem exageros, num espírito de jam e psicodelismo até desembocar novamente no fraseado inicial conduzido pelas guitarras e baixo. "I Wonder If I'll Care As Much" é a típica balada que rolava no fim dos anos sessenta, com pequenos toques psicodélicos e sem muitos atrativos instrumentais, aqui percebe-se resquícios da influência dos Beatles, essa é aquela música para dar uma pausa nos ouvidos, beber uma água que depois surge outra balada, mas essa com a marca registrada do Affinity, trata-se da cativante "Mr Joy", aqui os vocais de Linda Hoyle são instigantes, levando-nos à excitação completa e a cozinha conduz o ritmo com leveza e categoria, destaque para a linha de baixo e a quebrada da batera que vira o tempo inteiro, mas no tom do jazz, sem esmurrar as caixas. "Three Sisters" possui o solo de guitarra mais longo de todo o álbum e que solo, definitivamente arrebatador, acompanhado ao fundo por hammond, tecladeira e metais, o outro show fica por conta mais uma vez dos vocais. "Coconut Grove" faz a transição num anticlímax muito agradável, em que a bateria, teclados e baixo descansam, deixando a condução apenas com um belo dedilhado de violão com a voz de Linda em primeiro plano, numa linha bem blues, porém os toques psicodélicos e progressivos chegam junto com o hammond que é matador. O melhor desse disco o grupo deixou para o final, numa versão longa e surpreendente de um nit de Bob Dylan - "All Along The Watchtower". O set instrumental com Naiff solando o hammond sem dó é incrível, altos improvisos, porém com muito ritmo e melodia. O clima de jam fica ainda mais latente pela linha de baixo totalmente quebrada, viradas desvairadas da bateria culminando num ápice matador que desemboca nos acordes iniciais, a essa altura já esquecidos, diante de tantas passagens memoráveis, então Linda enuncia "Outside in the distance a wildcat did growllllllllllll" e o verdadeiro espírito do rock do fim dos anos sessenta está consumado, até porque é difícil encontrarmos um grupo que tenha incorporado tão perfeitamente essa transição, utilizando o clima ingênuo do rock dos anos sessenta, com artíficios elaborados e complexos do hard, jazz e blues, sendo a presença dos teclados responsável pelo andamento progressivo dos temas, algo que estava começando a ser estabelecido para as décadas seguintes através de obras conceituais e a formulação das grandes suítes que começaram a ter consistência a partir de 69. O que fica após a audição desse disco é de fato a sensação da alma lavada, destaque também para a capa que apresenta bem o clima de liberdade, cores e visual psicodélico que tomaria conta de vez da geração Woodstock. A edição da Angel Air traz oito bônus que para muitos superam até mesmo o trabalho original, devido a músicas do porte de "Eli's Coming", a excelente versão de "I Am The Warlus" e sobretudo pela antológica "Yes Man". |
Revisto por: Marcello Rothery | Nota:9.0 |
Uma bela mistura de rock, jazz, soul, folk e sinfônico, este excelente álbum foi o único lançamento da banda durante o tempo em que esteve ativa. Bem recebido por público e crítica, acabaria esquecido com o tempo, devido à saída da vocalista e do tecladista do grupo, poucos meses depois de lançamento do disco.
Abria com o rock I Am So Are You, com um vocal bem soul de Linda, e uma forte presença de metais, num resultado muito interessante. A destacar também um belo solo de guitarra no final. Segue o disco com a longa e progressiva Night Flight, que inicia bela e melódica, com guitarra e vocais suaves, para depois ganhar peso com um vocal mais forte e a entrada do hammond, num longo solo que mostra um flerte da banda com o fusion. A parte lenta retorna, e a música encerra com um outro bom e pesado solo de guitarra. A seguir, a melancólica I Wonder if I’ll Care as Much, em que Linda se destaca mais uma vez, acompanhada por Lynton no cravo. Mr. Joy tem mais apelo soul, enquanto Three Sisters retorna ao rock, com mais metais e hammond. Muito boa é a curta Coconut Groove, levada apenas na voz e violão, com direito ainda a uma flauta (não creditada no encarte). O disco se encerra com uma longa e jazzística versão de All Along the Watchtower, de Bob Dylan, com mais de 10 minutos, onde se sente forte mais uma vez o lado fusion da banda. Recentemente, o álbum foi relançado em cd. Uma das reedições ganhou duas faixas bônus : Eli's Coming e United States of Mind, músicas curtas e mais convencionais, muito interessantes. Na primeira, é possível ouvir mais 30 vocais de Linda intercalando entre si. Em outra reedição, mais recente, o álbum ganharia mais 6 faixas adicionais. Destas, destaque para a fenomenal Yes Man, um show de mais de 8 minutos onde a banda desfila mais uma vez sua competência jazzística. Uma música realmente de tirar o fôlego, e que por muito pouco não foi gravada : seu registro foi feito em dezembro de 1970, apenas 1 mês antes de Linda e Lynton saírem do grupo. Outro destaque entre essas 6 faixas é Long Voyage, linda composição de Carol King que ganhou um arranjo com metais e corais, e uma das mais belas interpretações da carreira de Linda. E por fim, ainda vale citar a boa Little Lonely Man, mais roqueira, e um cover de I Am the Walrus, dos Beatles. Uma obra-prima. |