Depois de haver lançado autênticas pérolas progressivas ao longo da década anterior (a exemplo dos magníficos Mirage, The Snow Goose e Moonmadness), o Camel chega aos anos 80 contando apenas com dois membros remanescentes da formação original: o guitarrista Andrew Latimer e o baterista Andy Ward (por sinal este disco marca também a última participação do Ward como membro efetivo da banda).
Nude é mais um dos diversos discos conceituais do Camel (esta é definitivamente uma das bandas que mais discos conceituais lançou ao longo de sua prolífica carreira), sendo inspirado na história real de um soldado japonês da 2ª Guerra Mundial que acabou desgarrando-se de sua unidade durante uma batalha, ficando esquecido pelos seus companheiros em uma ilha deserta do Pacífico, dado como morto, ali permanecendo por 29 anos defendendo como bom soldado que era aquele pequeno pedaço do Império, sem saber que a guerra havia terminado. Resgatado e aclamado como herói, ele não consegue mais se adaptar à vida moderna, preferindo retornar à vida de isolamento em sua ilha.
O disco descreve passo a passo toda a trajetória de Nude, desde a vida pré-guerra do soldado, na música "City Life" (uma faixa com apelo meio pop, mas muito bonita realmente), seu destacamento para o exército, em "Drafted" (uma música simplesmente belíssima, a minha predileta do disco, com inspiradíssimos solos de guitarra de Latimer), sua ida à guerra, na faixa "Docks" (totalmente instrumental, com tons bastante sombrios e dramáticos), o momento em que foi deixado para trás, em "Beached" (também instrumental, com ótimos solos de Latimer), sua vida na ilha ("Landscapes" e "Changing Places", as duas igualmente instrumentais, sendo a primeira extremamente suave e melancólica, com ótima presença de flauta, e a segunda bem mais ritmada e alegre, com algumas pitadas de sons tropicais), a rigorosa observância de seu dever de soldado naquele pequeno pedaço do Império ("Pomp & Circumstance", também instrumental, com marcante presença de teclados e flauta), a sua localização, resgate e retorno como herói à terra natal ("Please Come Home", "Reflections", "Captured" e "The Homecoming", esta última com sua atmosfera bastante festiva e marcial, representando a parada de boas vindas da cidade para receber o seu soldado herói), os seus sentimentos e reflexões ao se dar conta de quanto tempo de sua vida perdeu por uma causa inútil e de que a invencibilidade do Império não era verdade, em "Lies" (outra boa faixa com ótima presença dos solos de Latimer e de vocais), e finalmente, em sua festa de aniversário de 50 anos ("The Birthday Cake"), convencido de que não tem mais como viver em sociedade, ele decide retornar à vida de isolamento que tinha antes na mesma ilha ("Nude's Return").
As músicas em Nude são quase todas interligadas, como convém a todo bom álbum conceitual, alternando-se entre faixas de pura suavidade e melancolia (perfeitamente integradas ao tema de solidão e isolamento proposto, com especial ênfase para as belíssimas "Drafted", "Landscapes", "Changing Places", "Pomp & Circumstance" e "Nude's Return") e outras bem mais rock, mais ritmadas, com destaque para as excelentes "City Life", "Docks", "Beached", "Captured" e "Lies".
Este é um álbum com poucas intervenções vocais (das quinze faixas do disco, onze são totalmente instrumentais) e, com exceção apenas da música "Please Come Home" (escrita por Latimer), as demais foram escritas por Susan Hoover, que viria a tornar-se esposa do Latimer e também letrista de diversos álbuns seguintes da banda.
Nude pode até não ser considerado um clássico do nível de pérolas como Mirage, The Snow Goose e Moonmadness, mas ainda assim é um ótimo disco, com seus momentos de pura inspiração do Latimer em melodias arrebatadoras e solos de guitarra e flauta de encherem o coração da gente. |