Tempus Fugit |
Brasil |
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Revisto por: Gibran Felippe | Nota:9.5 |
O resultado alcançado por esse segundo trabalho da banda carioca Tempus
Fugit é esplendoroso e fica latente logo na abertura com uma música já considerada clássica na discografia progressiva brasileira, "Daydream". Impossível imaginar um nome mais propício para essa composição do André Mello, que apresenta solos de guitarras memoráveis e quebras rítmicas arrebatadoras, numa apologia que encontra ressonâncias em tempos oníricos, pois tanto nessa música quanto numa fantasia de nossos corações é possível deixar a mente vagar em busca do pleno contentamento. Há uma certa divisão por parte do público no que tange o melhor trabalho da banda, uma ala considera o primeiro e outro grupo na mesma proporção, considera ser esse segundo álbum superior. Faço parte do segundo grupo, porque em "The Dawn After The Storm" noto um amadurecimento musical por parte do Tempus Fugit, com as idéias mais delineadas e um escopo musical mais consistente e original. Ressalto que nesse trabalho a banda conseguiu ampliar seus horizontes sonoros, soltou de vez algumas amarras e muitas vezes é possível observar variações rítmicas que beiram improvisos, bem como destaques individuais não percebidos anteriormente, a maior prova disso está na grande participação e ênfase das guitarras. Se o que antes já era ótimo, aqui fica ainda melhor! A formação do grupo nessa ocasião era: André Mello – teclados e vocais, Ary Moura – bateria, Henrique Simões – guitarra e violão e André Luiz no baixo. Uma alteração significativa ocorreu com relação ao primeiro trabalho, a saída do carismático baixista Bernard, responsável por algumas composições no "Tales From A Forgotten World" e também que imprimia uma pegada similar à do Eloy, já que uma de suas grandes influências reside justamente no magnífico e único Klaus P. Matziol. Mesmo abandonando o Tempus Fugit, Bernard seguiu a sua carreira de designer produzindo inúmeras obras de arte e sendo muito requisitado no meio devido seu enorme talento e criatividade. Na outra ponta, seu substituto, André Luiz, mantém o alto nível com categoria Na segundo música, responsável por intitular a obra, temos uma mini suíte instrumental dividida em quatro partes marcadas por composições complexas e novamente uma dobradinha super inspirada – André Mello/Henrique Simões, capazes de criar acordes absolutamente melódicos. Os teclados produzem uma atmosfera apoteótica e muito sinfônica, ficando perceptível influências de Rick Wakeman e Peter Bardens, enquanto a guitarra executa diversos solos chorados em meio a dedilhados elaborados. A passagem que mais admiro é a derradeira, "Homeward", justamente por possuir um solo de teclado capaz de levar-me às lágrimas. Essa é a minha preferida do disco, ao lado de "Discover". "Never" é a primeira música cantada do álbum e de um lirismo capaz de agradar à primeira audição e também funciona como uma espécie de calmaria para o ritmo frenético das anteriores. Essa composição lembra os grandes momentos do Pendragon e se André Mello não possui a mesma técnica vocal de Nick Barret, seus teclados em nada deixam a desejar para os de Clive Nolan e em vários momentos é possível observar a sua grande desenvoltura na utilização de vários timbres e mesas. Na sequência a banda apresenta mais uma grande música, com um sonoro título em português - "Tocando Você" e uma guitarra para nenhum fã de Andy Latimer botar defeito. Henrique Simões mostra grande versatilidade na condução das guitarras, indo do solo mais romântico e chorado para movimentos mais bruscos e dramáticos, sem qualquer prejuízo ao andamento da harmonia musical do grupo. Verifica-se a mesma precisão também em "O Dom de Voar" (belíssima) e "The Sight". Na primeira temos a completa ausência da bateria e uma participação especial de Marco Aurêh nas flautas que casam perfeitamente com os violões de Simões e o piano do André, enquanto a segunda é de um sinfonismo comum às bandas setentistas. Tempus Fugit é essencialmente isso, um resgate do sinfonismo clássico, "The Sight" provavelmente possui o solo de guitarra mais belo de todo o álbum e os vocais aqui dão conta plena do recado e estão bem de acordo com o desenvolvimento musical proposto, vale destacar o baixo do André Luiz que se faz presente com muita personalidade em "The Sight". Tenho uma preocupação com relação ao novo trabalho do grupo, pois já se vão quase dez anos de distância para esse genial "The Dawn After The Storm" e o receio está relacionado à expectativa que o Tempus Fugit vem causando nos seus admiradores do mundo inteiro para o lançamento do álbum "Chessboard", quase uma tortura. Tenho a convicção que tratar-se-á de mais um belo exemplar da banda que será entregue no fim de 2007, porém se tal trabalho não mantiver o nível dos dois primeiros, será uma grande frustração devido o longo tempo de espera e convenhamos que os dois primeiros discos do Tempus Fugit foram acima da média, colocando a banda entre as melhores dos anos 90, sendo convidada para alguns festivais internacionais, tais como o Baja Prog, onde infelizmente não puderam comparecer por conta de problemas de ordem financeira e o Prog Fest, nesse sim, o grupo se apresentou e foi sucesso de vendas na ocasião do evento, ficando marcados por serem a primeira banda sulamericana a participar do festival. A banda também possui um público fiel na vizinha Argentina, onde tiveram a oportunidade de se apresentar e foram ovacionados pelos hermanos. "The Dawn After The Storm" ainda reserva a melhor surpresa para o final, "Discover" é o carro chefe desse trabalho, absolutamente contagiante e nessa observa-se grande influência do Yes, a principal fonte de inspiração do grupo, que tem algo dos ingleses até em seu nome. E convenhamos, mesmo possuindo arranjos bem distintos do Yes, a banda bebeu na melhor das fontes existentes no rock progressivo para extrair sua bela sonoridade. A introdução da música com o bandolim de Simões é um arraso, abrindo de forma comovente e com extrema sensibilidade para os teclados e vocais do André Mello. O desenvolvimento segue com a entrada de outro convidado especial, Fernando Sierpe colaborando nos backing vocals e com uma guinada inesperada para um ritmo intenso, essas variações abruptas remetem-me diretamente ao Yes, eram mestres nesse tipo de construção musical, one Howe começava na viola e depois Wakeman explodia tudo. Aqui o Tempus Fugit recria essa atmosfera com grande maestria e personalidade própria, onde na segunda metade da música em diante os teclados de André surgem de forma ímpia não deixando pedra sobre pedra num arroubo de euforia. Já tive o grande prazer de vê-los ao vivo e aguardo ansiosamente pelo novo trabalho e também por uma nova turnê, na minha escala de conceitos, considero o primeiro trabalho do Tempus Fugit com uma nota nove, esse segundo sobe mais meio ponto e se continuarmos nessa progressão, teremos a nota máxima para “Chessboard”! |