Nave |
Brasil |
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Revisto por: Gibran Felippe | Nota:8.0 |
O grupo paulista Nave está navegando na mesma onda, responsável por
inúmeros retornos que ocorreram recentemente, de bandas importantes na cena progressiva nacional. É possível entender a palavra retorno como um pouco forte nesse caso, mas pelo tempo que a banda ficou totalmente ausente do cenário, essa expressão passa a ser perfeitamente plausível, afinal de contas, a maioria já pensava que a banda tinha encerrado suas atividades definitivamente. Ainda bem que isso não ocorreu, e mesmo que essa volta não tenha o mesmo gradiente da importância de nomes como Mutantes, A Bolha, Casa das Máquinas, Som Nosso de Cada Dia, A Cor do Som, Haddad, Saecvla Saecvlorum, dentre outros, ainda assim é muito nobre, porque não se trata de uma simples reunião para shows, mas sobretudo da produção de músicas novas em estúdio. "Segredos do Chão", seu recente trabalho, tem os atributos necessários para agradar aos admiradores do grupo, ou seja, poucas elucubrações técnicas, não se escora em nenhuma vertente do rock progressivo clássico e as raízes brasileiras continuam presentes, não só na sonoridade, mas sobretudo no canto aprazível em português. A formação é muito coesa, contando com Estevão Kalaany - guitarras e violões, Benigno Sobral Jr. - baixo, vocais, violões e teclados, Roger Troyjo - vocais, Ricardo Stuani - bateria, Marcos Vita - teclados e vocais. Temos ainda a participação especial do tecladista Allex Bessa, da banda Tarkus, executando inúmeras passagens ao longo do disco. "Arcabuzes" é a música de abertura e diria que trata-se de uma excelente escolha por parte do grupo, pois não deixa dúvidas ou expectativas do que a banda produzirá em termos sonoros. Obviamente que a mesma não esgota os limites musicais da banda, mas apresenta um escopo muito bem delineado do que encontrar-se-á durante a execução do disco, ou seja, músicas de curta/média duração(a obra é composta por onze faixas), bases em violões, bons vocais, linhas de baixo muito criativas e bem executadas, solos de guitarra incidentais e chorados, bases discretas nos teclados e sobretudo letras acima da média para os padrões nacionais. A segunda composição, "A Seu Tempo", é marcada por um interessante rif de guitarra na abertura e que pontua a música sempre nas pausas dos vocais. Destaca-se o solo de teclados ao fim da canção, muito atraente, mas infelizmente deveras curto. É comum atribuir semelhança entre os vocais de Jon Anderson e do Roger Troyjo e isso realmente acontece de fato, mas que fique claro, no seu trabalho junto à banda cover Yesongs Compacta Trio. Se para cantar nesse grupo cover ele persignou-se diante do líder e vocalista do Yes, após a audição de "A Seu Tempo" fica transparente que essa semelhança se dissipa por completo na banda Nave, já que seu timbre ganha mais personalidade, provavelmente por cantar em português. É interessante notar que devido à temática proposta pelo grupo, seus vocais acabam por se aproximar em demasia do estilo de outro mestre, o nobre Beto Guedes, aqui deve-se fazer um enquadramento necessário, já que a escola mineira possui uma presença muito forte na proposta musical da banda, desde as bases acústicas, passando pelas linhas melódicas e estruturais e desaguando no teor das letras. A marcação da mpb de qualidade continua em "Águas Claras", sem dúvida uma das melhores de todo o trabalho, o refrão é deslumbrante na voz de Roger, difícil ficar impassível e não cantar junto com ele - "Águas de luz, pedras e ar/Rio, da montanha, desceu pra me levar", outra referência que perpassou a minha mente nesse momento foi Kleiton e Kledir que sempre deram um recado brilhante através de sua música com forte conotação regional. Na sequência temos "Paralelas Marginais", conduzida por um dedilhado mágico de Estevão, reproduzindo a sonoridade típica do bandolim, através das cordas da guitarra portuguesa, instrumento raro na discografia progressiva nacional. Ao ouvir essa música com atenção, nota-se algo de valoroso no instrumental do grupo, são os baixos de Benigno, trata-se de um músico de mão cheia que domina completamente seu instrumento e se existe algo que aproxime a musicalidade do grupo aos grandes panteões do progressivo inglês, tal característica se deve exclusivamente às linhas de baixo. "Sobrevôo" é uma das mais longas do disco, aproximadamente sete minutos e com certeza a mais progressiva, muito disso se deve à presença do sintetizador, não somente em alguns momentos. Ao contrário das outras, a sua presença ocorre durante todo o desenvolvimento. O primeiro set instrumental no meio da música é reluzente, reproduzindo o refrão vocal com muita sensibilidade e sinfonismo. Já no segundo set instrumental ocorre um movimento quebrado do baixo, com um solo de guitarra rasgando a alma, culminando num breve solo de sintetizador, que possibilita a passagem aos vocais entoando mais uma vez o belíssimo refrão. "D'Alma" é um pequeno número instrumental para violões, de certa forma achei um tanto apagado, soando mais como uma forma de dividir o disco, ou seja, uma espécie de pausa, a rigor a harmonia linear é que transmite essa idéia, se tivesse algo mais forte, movimentos mais bruscos, um solo mais enfático ou algo parecido chamaria mais a atenção, algo na linha de “Moddy For a Day”, por exemplo, mas isso fica um pouco distante aqui. Mais uma vez o baixo é quem rouba a cena, apesar do instrumento principal ser o violão. As tintas mais intensas e dramáticas do Nave estão presentes na música que nomeia a obra. "Segredos do Chão" exige uma performance mais comovente do Roger, que desempenha essa função com maestria, além dos ótimos vocais temos o mais longo solo de guitarra da obra que estão um aço, vale notar que o encerramento desse solo em harmonia com os violões e baixo reproduzem uma guinada forte muito interessante na música, diminuindo a cadência para o retorno dos vocais. Esse tipo de movimento é uma característica da banda, onde se atinge um ápice instrumental que diminui a intensidade aos poucos, permitindo a entrada absoluta dos vocais, principalmente nos números mais longos e sempre causa um efeito agradável. "Vertigens" e "Longe Daqui" são composições com estruturas semelhantes, em que as guitarras e teclados descansam, dando passagem à boa dobradinha violão/baixo. A natureza, tema recorrente do grupo é abordada novamente em "Céu de Cachoeira", onde os teclados já dão as cartas logo na introdução, lembrando algumas passagens que remetem aos bons tempos do 14 Bis, outra bela composição do grupo. A obra finda com "De Uma Vez", mantendo o equilíbrio e coerência musical do disco. O Nave manteve-se fiel ao estilo musical proposto, não se preocupando em fazer rock progressivo clássico, não se atendo em paradigmas ou fórmulas pré-concebidas. Sabemos da reconhecida competência dos músicos e da tranquila capacidade que possuem em executar passagens complexas e intricadas, porém o direcionamento sonoro em que optaram seguir foi outro, mais fincado na raiz brasileira(isso também é louvável), trazendo novamente à baila a velha escola mineira de nomes tão importantes como Beto Guedes, 14 Bis, Lô Borges, Som Imaginário e Sagrado Coração da Terra. Juntando-se a eles, outras referências sonoras capazes de avivar nossas reminiscências são A Cor do Som, Projeto Caleidoscópio, Márcio Rocha, Kleiton e Kledir e os mestres nordestinos Zé Ramalho e Lula Côrtes, principalmente pela profusão de violões. Esse mix de referências acima, remonta de certa forma o que encontramos nesse "Segredos do Chão", registro digno da boa musicalidade brasileira e mesmo a ausência de uma suíte ou de uma música mais referencial não é capaz de obumbrar o brilhantismo desse trabalho. Torcemos para que o Nave tenha voltado para ficar e que siga germinando bons frutos. P.S. Resenha dedicada ao músico Estevão Kalaany, pela inspiração e boa música. |
Revisto por: Cesar Lanzarini | Nota:8.5 |
Ausentes por quase 10 anos, a Nave pousa no planeta Terra o seu novo CD Segredos do Chão. E valeu a espera! O grupo volta bem mais maduro que o seu primeiro (e também bom) CD. Guitarras e vocais formam um par quase perfeito, apoiados por bateria, baixo e teclados que também dão as cartas em quase todas as músicas. Vale destacar novamente que neste CD o grupo teve um cuidado a mais com as letras das músicas (todas cantadas em português). Logo na primeira faixa (Arcabuzes) isto já fica bem claro. Os arranjos das músicas servem como pano de fundo para verdadeiras poesias (relacionadas com o solo/chão(?)) que foram escritas pelo grupo, mas ao mesmo tempo, há também um cuidado ainda maior com estes arranjos. O que dizer, por exemplo, da música A Seu Tempo, onde as bases de teclados se contrapoem à guitarra até terminarem em um solo de minimoog matador (do tecladista do Tarkus Alex Bessa - que participa com o moog solando em quase todas as músicas do grupo), e que depois volta para um outro solo de guitarra? Talvez perfeito seja o adjetivo correto... E essa quase-perfeição se repete em todas as músicas! A voz de Roger, certamente entre os melhores do progressivo brasileiro, também é um ponto alto deste CD. A voz "Andersoniana" dele e a do vocalista da banda gaúcha Grandbell são idênticas! No final do CD tem-se a sensação de que a Nave bebeu bastante da fonte mineira do Clube da Esquina (a sonoridade às vezes é bem semelhante, pricipalmente na parte acústica - muito bom os violões de 6 e 12 cordas e a guitarra portuguesa), mas eles souberam pegar esta influência e direcionar o seu grupo para um caminho próprio. Sem medo de afirmar, este é o melhor disco brasileiro de progressivo do ano de 2007 e poderia sem dúvida ser editado em larga escala suprir aquele público carente de música de qualidade no Brasil. Deixo um recado para a banda: continuem cantando em português pois este CD é a prova cabal de que progressivo e o nosso idioma combinam. Isto é muito valorizado pelos gringos. Vocês são um exemplo a ser seguido no Brasil! |
Revisto por: Renato Glaessel | Nota:7.5 |
Fiquei bastante feliz com esse retorno da Nave, eu não sabia que o grupo paulistano ainda existia, e após os comentários do Jorge Sanches fui atrás do disco através do Estevão.
A banda é rigorosamente a mesma do ótimo álbum de 1997 porém a sonoridade sofre algumas modificações. Assisti a um show da banda no centro cultural na década de 90 e as influências eram claramente progressivas, marcadas pelas harmonias vocais a la Jon Anderson e suntuosos arranjos sinfõnicos que já haviam sido apresentados ao público na ótima compilação "Tales of Brazilin Rock" da Record Runner, onde participam com a suíte "The Skies Will Surrender" e seus exatos 10:00 minutos de puro rock progressivo. A sensação que tive ao escutar "Segredos do Chão" foi de que o grupo trilhou um novo caminho, porém sem desvencilhar-se por completo das origens.A influência da música Brasileira é mais nítida e os arranjos, que são muito bem cuidados, lembram bastante a atmosfera das bandas e cantores mineiros como Flávio Venturini e Lô Borges, os próprios temas das canções encontram relação com a escola mineira, tratando de idas e vindas, temas ecológicos e paisagens luminosas. Na parte instrumental podemos destacar a competência do vocalista Roger Troyjo, provavelmente o melhor do progressivo Brasileiro na atualidade, que tantos serviços já prestou ao rock progressivo, Roger também é bastante conhecido por seu trabalho junto ao grupo "Yesongs": a dupla Estevão/Marcos costura excelentes melodias e o desenvolvimentos dos temas acontece com muito bom gosto, porém na minha opinião poderiam ter arriscado um pouco mais nos solos, pois quando isso acontece, como em "A Seu Tempo" e "Sobrevôo", o resultado é excelente, enfim, talvez a opção da banda tenha sido a de tratar os temas de forma um pouco mais direta realmente. O cd está disponível em formato cdr porém com qualidade gráfica e produção impecável, especialmente na qualidade de som. Parabéns à banda por esse belo retorno. Não deixem de ouvir em www.myspace.com/navebr . |