Discoteca básica, fundamental
  Discoteca básica, fundamental. 
 
  O Pink Floyd obteve um resultado espetacular na concepção do "The Wall".
 Trata-se de uma obra impecável e única na discografia do quarteto. Existem
 milhares de análises, resenhas e teorias sobre "The Wall", onde se
 equilibram em positivas e negativas. Não concordo com aqueles que proclamam
 ser "The Wall" um projeto solo do Roger Waters, é fato que a idéia
 principal contida na obra veio da sua mente, porém quando apenas nos
 atentamos em ouvir tão somente as músicas, acredito que isso se
 desmistifique. Todos os elementos floydianos estão presentes no "The Wall" e
 digo mais, provavelmente possui a melhor performance de Rick Wright em toda
 a trajetória da banda na condução dos teclados, pianos e sintetizadores.
 Temos também o show de guitarras de Mr. David Gilmour com muitos riffs e
 solos chorados que rasgam de emoção. Isso aliado à eterna melancolia de
 Roger Waters e as suas linhas de baixo inigualáveis e como sempre, Nick Mason
 é o membro mais discreto e no "The Wall" não foi diferente, porém a sua
 competência musical é incontestável, sem nunca comprometer, mesmo não sendo
 virtuoso ou brilhante, o mesmo esbanja criatividade.
 
 Sem dúvida é um trabalho com uma forte marca pessoal do Roger Waters, o que
 de certa forma pode ter causado um pouco de mal estar na banda, já que todos
 os holofotes se viraram para ele em detrimento da participação dos outros
 integrantes, a fogueira de vaidades se tornaria insustentável após a
 conclusão do "The Final Cut".
 
 Mas a verdade é que o resultado musical obtido fora do grupo Pink Floyd, se mostrou que Waters era de fato genial, também deixou claro que sem a companhia dos colegas, jamais faria obras que se comparassem às do Floyd. No "The
 Wall" o Floyd mesclou progressivo, psicodelismo e pop rock em doses certas,
 sem precedentes, talvez por isso o mesmo seja na carreira do grupo tão
 popular quanto "Dark Side Of The Moon", com um grande diferencial, a
 conotação social e política contida nas idéias e letras que abordam um
 sentimento real arraigado em muitos jovens europeus que viveram os anos pós
 Segunda Guerra, motivo de grande empatia com o público e crítica.
 
 "The Wall" surgiu como um projeto grandioso e acabou por dar origem a um
 clássico do cinema moderno pelas mãos do cineasta Alan Parker, diretor que
 se identifica muito com essa temática, haja visto "Asas Da Liberdade" em que
 o personagem Birdy pode ser tranqüilamente comparado a um auto-retrato do
 personagem Pink Floyd, vivendo traumas semelhantes.
 
 Reitero ser "The Wall" uma obra da banda e não de um homem só, pelo
 motivo básico de que Waters solo jamais atingiu do resultado obtido em "The
 Wall", em que pese eu também apreciar em demasia as suas obras solo, mas
 David Gilmour, Wrigth e Mason são insubstituíveis, assim como o Floyd sem
 Waters não obteve grandes êxitos em estúdio. É como se Waters fosse o
 caibro, porém sem as ripas(os outros integrantes) o telhado não se sustenta.
 
 É interessante ouvir "The Wall" em fones, pois a riqueza de detalhes é
 imensa, os pianos, o baixo, os vocais formam uma profusão sonora mágica,
 comparado a "Atom Heart Mother". Destaco como melhores músicas: "In The
 Flesh", "Mother", "Hey You", "Confortably Numb" e "The Trial", mas gosto
 absolutamente de todas.
 
 "In The Flesh" possui um riff pesado e inconfundível nas guitarras de
 Gilmour, mostrando "na carne" os terrores de um ataque, com vozes de comando
 em meio aos vocais do Waters, simplesmente uma abertura arrasadora e
 marcante.
 
 "Mother" é a mais sensível de todas e apresenta a relação do menino com a
 mãe, suas emoções, seu amor e principalmente seus medos. A música conta com
 um teclado maravilhoso do Rick Wrigth, não tenho dúvidas que se trata de uma
 das mais emocionantes músicas produzidas pelo grupo.
 
 "Hey You" é belíssima, remetendo-nos a fase mais folk do grupo, registrada
 em álbuns como "Atom Heart Mother" e "Medle", destaque para os violões de
 Gilmour.
 
 "Confortably Numb" dispensa comentários, clássico absoluto do rock em todos
 os tempos e parece-me a música mais Gilmouriana contida no álbum, o que
 provoca em muitos o sentimento de que as melhores músicas do grupo sempre
 possuíram a sua assinatura.
 
 "The Trial" é a parte final, um julgamento que mais parece um duelo, com
 vocais brilhantes e um som altamente progressivo e psicodélico, um
 verdadeiro devaneio que nos transporta para o "lado de fora do muro" - que
 funciona como representação metafórica de todos os empecilhos e frustrações
 existentes na vida do jovem Pink Floyd.
 
 Para terminar, considero "The Wall" o segundo melhor trabalho do Floyd,
 atrás apenas do clássico "Meddle". | 
           
						  
         
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