Marillion - Somewhere Else - Progbrasil

Marillion

Inglaterra
www.marillion.com




Titulo: Somewhere Else
Ano de Lançamento: 2007
Genero:
Label:
Numero de catalogo:

Revisto por Edson Carlos Silva em 04/10/07 Nota: 6.5

 

Ouço, mas pulo algumas músicas

“Somewhere Else” é o 14º disco de estúdio do Marillion (10º da fase Hogarth, a minha favorita) e nos mostra ao longo de suas 10 canções uma banda despretensiosa. Sim, despretensiosa. É sempre muito difícil superar logo de cara um álbum como Marbles, que sem dúvida é TOP 3 na discografia da banda. Apesar da calmaria, as influências dos Beatles e do britpop se mantém presentes, embora em menor escala.

Ao contrário do que a maioria dos fãs (inclusive eu) imaginava, o CD novo nos mostra músicas mais curtas, mais tranqüilas e sem ligações entre si. A bolacha se inicia com “The Other Half”, que Hogarth escreveu em homenagem à sua nova namorada, que traz uma canção que começa leve e vai crescendo, terminando com um lindo solo de guitarra de Steve Rothery. A seguir temos “See It Like A Baby”, o primeiro single da banda, música mais comercial e nada de muito chamativo. Depois, temos a belíssima “Thankyou Whoever You Are”, que tem mais uma vez, um solo lindo de guitarra e uma melancolia nos vocais de Hogarth, característico do Marillion ao longo desses quase 20 anos.

A seguir, temos uma escorregada: “Most Toys” é uma das piores canções do Marillion. Ainda bem que é curta, pois se trata de um som totalmente descartável. Depois dela, a banda nos traz os dois melhores momentos de Somewhere...: a faixa-título, “Somewhere Else”, começa num clima despretensioso e tranqüilo sob os teclados de Mark Kelly, mas vai crescendo em emoção e energia ao longo de seus quase 8 minutos, sendo a melhor música do CD.

Depois temos, “A Voice From The Past”, seguindo a mesma fórmula da canção anterior, mostrando o que o Marillion sabe fazer de melhor: cozinha ajustada, teclados discretos, porém eficientes, os solos maravilhosos de Rothery e Hogarth cantando muito bem, nos brindando com seu estilo melancólico e maravilhoso de sempre.

Depois, nova escorregada com “The Such Thing”. Descartável como “Most Toys”, porém mais longa e não menos chata. Pulemos essa e passamos para a ótima “The Wound”, que peca apenas pelo excesso de melancolia e experimentalismo no final da música, ela poderia ter pelo menos uns 30 segundos a menos. Depois dela temos “The Last Century For Man” e a belíssima “Faith”, que era para entrar em Marbles, mas se encaixou como uma luva em Somewhere Else, sendo a minha segunda música favorita. A letra fala da fé e das perspectivas e chances que temos para alcançarmos a felicidade na vida e que deixamos escapar de nossas mãos.

Um CD irregular. Não é um clássico, mas em se tratando de Marillion é sempre algo acima da média da música atual, mesmo abaixo do padrão Marillion de qualidade.
Revisto por Sergio El Kadi em 09/04/07 Nota: 4.0

 

Ouça antes de comprar

Poucas vezes um álbum levou um título tão apropriado quanto este do Marillion. Parece que a banda que eu adoro há tanto tempo pediu o chapéu e está em qualquer lugar, mas não neste disco. A banda perdeu a mão, e chama muito a atenção o fato deste disco surgir depois de terem lançado o bom Marbles (que seria ótimo se fosse simples) há três anos. Será que nesse tempo todo eles não poderiam ter composto coisas mais convincentes?

Isso mesmo, eu escrevi "convincentes". Este disco simplesmente não convence, apesar de alguns poucos bons momentos. Na maior parte do tempo, a banda parece não ter noção do que quer, e fica enrolando, sem direção, sem paixão. Muitas melodias lembram os Beatles, mas o resultado é muito aquém do que se espera, porque sobram melancolia, músicas em tons menores, efeitos de sintetizadores que não acrescentam nada.

Nenhum integrante está bem no disco, parece que a inspiração foi pra algum outro lugar. O Rothery, na maior parte do tempo, não é sombra do grande guitarrista que já foi. O estilo que ele usa neste disco lembra o do Anoraknophobia, mas sem a mesma inspiração, e ele aparece muito pouco. O Trewavas na maior parte do tempo foi pra algum outro lugar e nem aparece direito no disco. O Mark Kelly se limita a algumas linhas de piano que puxam pro jazz e que são pra lá de melancólicas, além de teclados básicos. O Ian Mosley até que tenta algo diferente, mas podia ser o Neil Peart na bateria, a música não ajuda. E o Hogarth tá cantando mal, variando demais entre sussurros e tons altos que nunca foram seu forte.

Sobre as músicas, o início do disco é complicado. A primeira, "The Other Half", até passa, um rock meio melancólico com um bom solo de guitarra. "See It Like a Baby", o single, não empolga, tem um refrão que se limita a repetir o título da música de forma interminável. "Thank You, Whoever You Are", é uma balada bem feita, mas que não acrescenta muito ao disco. "Most Toys" é outro rock muito repetitivo com resultado questionável.

A coisa melhora no miolo do disco, que apresenta duas músicas que começam com clima bem calmo (e chato) e progressão constante (resultando em momentos bem melhores). A faixa-título é disparado a melhor do disco, apesar dos malabirismos vocais desastrados do Hogarth. Ela vai crescendo numa melodia típica dos Beatles (mas que não faz o John Lennon se remexer em seu túmulo), e tem um final contundente sem muitos malabarismos, com a banda fazendo música progressiva de verdade (alguns trechos me lembram a ótima "Ocean Cloud") e apresentando algumas novidades na composição, com vários sons sutis formando bons arranjos. É o único momento do disco que não fica devendo para a história da banda.

"Voice from the Past" é uma boa canção e que tem mais ou menos a mesma estrutura da anterior, mas não atinge os mesmos resultados, principalmente porque o Hogarth volta a cantar muito mal. Em compensação, há um bom solo de guitarra, ainda que curto. "No Such Thing" é outra faixa melancólica e que não diz nada, com um riff de guitarra chato e repetitivo, letras repetitivas, completamente dispensável. "The Wound" tem um clima mais pra cima, um rock com boas melodias, boas variações e performance acima da média do disco, e é minha segunda preferida no geral; pena que ela descamba para um clima mais uma vez melancólico e que não é ruim, mas é maior do que deveria.

O final do disco traz mais uma pisada na bola. "Last Century for Man" mostra o Hogarth querendo dar uma de Jon Anderson com suas letras dirigidas ao inconsciente coletivo em busca de um mundo melhor. Não gosto de tudo o que o Anderson fez neste sentido, mas ele mais acerta do que erra. O Hogarth mesmo já fez coisa parecida (não tão explicitamente) em "Man of a Thousand Faces" (do disco This Strange Engine). Entretanto, desta vez ele errou feio. A música é chata, o refrão é mais chato ainda, e o som não se parece com nada do que o Marillion já fez.

Finalmente, "Faith" é uma sobra do Marbles que tenta fechar o disco como "Made Again" faz no Brave. Uma balada bonita, mas sem a mesma inspiração de "Made Again", e que fecha um disco sem inspiração. Somewhere Else tem os dois defeitos dos considerados piores discos da banda, a sonoridade questionável de parte do Radiation e a falta de inspiração de parte do .com, e por isso considero este novo trabalho o pior que a banda já lançou. É um disco em que quase nada se salva (a não ser pela faixa-título, e mesmo assim com algumas ressalvas), e que não ouvirei muitas vezes.
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